domingo, 27 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE V

Edgard Osmar de Carvalho



>Perguntas sem respostas



Outro fator que me levou a desenvolver este estudo sobre o canto do curió foi a falta de respostas, não só minhas, mas de alguns amigos, que, como eu, perguntavam: onde está a alteada de jurubatuba ? Que nota "tói" é essa que nã ouço ? São "té-tés" realmente, pois não percebo com clareza esse som ?


Quando questionamos, juízes, criadores e curiozeiros com as mais variadas experiências, demonstravam de forma clara, desconhecimento total. Outros se furtavam, de forma evasiva a darem a sua opinião, mudando imediatamente de assunto. Não tendo respostas, fui à pesquisa e ao estudo que serão detalhados a seguir. Esclareço que conversei com dezenas de pessoas, inclusive de forma direta com juízes, sendo os melhores na minha opinião, dos que conheço. Uns não souberam me dizer qual era a nota da alteada. Outro disse que era "Tó". Um deles que era "tói". Algumas das pessoas consultadas ficaram de pensar para responder. Já que passaram meses, alguns até anos e nenhuma resposta veio. Desconhecimentos esses em um grupo tão vasto é de assustar-se. Quantos outros sons não seriam descobertos se a mesma pergunta fosse feita a outros ? Ressalto, contudo, que uma das pessoas com quem conversei, das dezenas, assim mesmo por telefone, curiozeiro do passado, pouco frequentador dos torneios mas ainda atualizado, afirmou-me que a alteada do juruba era realmente uma nota parecida com o samaritá, completando, inclusive, que ela não era mais ouvida nos curiós do presente. Essa observação me pareceu bastante interessante diante do quadro de desconhecimento total, constatado e descrito.



>Estudo e pesquisa


O canto para ser super clássico, linha Ana Dias, tem que ser aquele originário dos primeiros discos produzidos, melhorados é lógico, em termos de qualidade de gravação e correção de deficiências, referentes a sons mal produzidos em muitas e diferentes cantadas. Mas nada de criar-se sons produzidos por sílabas inexistentes, como toá, tói, totói, titi, teté, toa, titói, etc. Outro detalhe: as notas do curió Ana Dias super clássico são separadas. Não existem notas ligadas, tanto nas principais, como nas de preparação, ou "tété", didaticamente falando. Se o "teté" for um único desenho gráfico, portanto uma só silaba, não é Ana Dias. É outra letra de música.


Faço essas observações, como outras que farei, baseado em estudos de quatro anos, passando pelo computador, em programa específico, todos os discos do Ana Dias inicialmente citados, como todos os modernos, após período de propriedade da marca Ana Dias do amigo Valter Moretti, além dos discos do Xodó (mestre, xodó e laranja), do Patrício, Pachá I, Pachá 2, Brilhante, Tiradentes, Marajá, Macalé, Genésio, Barão, Montreal, Indaiá, Pardo do Gijo, Princípe Negro e fitas do São Paulo, Sereno, Colonial, Barbito, etc. Além disso, incluí umas duas ou três centenas de fitas gravadas profissionalmente, bem como gravações ao vivo de vários curiós.


Esclareço que examinei esses cantos usando o computador, como disse antes, mais no sentido de constatar as variações e mudanças que ocorreram no decorrer dessas últimas três décadas, no que consideramos o real canto do curió Ana Dias. Mudanças essas resultantes de gravações mal feitas, algumas piratas, outras mixadas, que alteravam os sons originais, que não devem se perpetuar, nem ser aceitas por aquelas pessoas que querem ver essa música maravilhosa preservada na sua originalidade.


Tenho visto pessoas fazendo trabalhos excelentes de divulgação, ensinamento, preservação, etc., que estão fora da linha Ana Dias, mas sempre se referindo ao que o seu pássaro canta, ou divulgando a letra da música que seu curió expressa. Temos que concordar com o surgimento de pássaros diferentes do canto do Ana Dias pois, se não o aceitassemos, estaríamos excluindo um canto maravilhoso como é o do 'mestre'-xodó, que poderia cantar em qualquer torneio como super clássico, em outra estaca é claro, não na linha do Ana Dias, pois a letra do seu canto é totalmente diferente, mas que preservado na sua originalidade, não como no selo laranja, é simplesmente maravilhoso. Sim, é difícil os filhotes aprenderem. Paciência. Não é por isso que vamos mudar a sua letra ou a ordem melódica do seu canto.


Depois de tudo examinado e baseando nos exclusivamente nas gravações mais antigas, elaboradas no início da década de 70, mais precisamente em 71, e comparando-as com as demais já citadas, somos forçados a afirmar que falar em "te-té", como nota de preparação, só em termos didáticos. Para maior clareza do que se segue, darei a seguir uma relação dos termos que serão utilizados no desenvolvimento do raciocínio:


*Grupo de Notas - São as duas ou três notas principais do canto. Exemplo: "Quim-Quim" (virada de canto); "Uí-Uí" (samaritá); etc. Estas notas poderão ser referidas acompanhadas das de preparação, se for o caso;


*Primeira Parte - São as notas principais e de preparação que formam a entrada de uma cantada. Neste primeiro conjunto não há o samaritá.


*Segunda Parte - São as notas principais e de preparação que vai do "Quim-Quim", de virada, até a batida de praia de encerramento. Neste há o grupo do samaritá.


Como vimos, serão duas partes, com um único samaritá. Um canto completo, portanto. Todos os posteriores se forem referidos partirão do "Quim-Quim", de virada.


Afirmei acima que não se pode falar em "te-tés", de forma simplória como se pretende colocar, porque dos seis existentes na segunda parte, dois deles repetidos na primeira parte, não são iguais. Apesar de não serem rigorosamente "te-tés", coloco-os, como ilustração, na grafia do canto feito no início desta matéria.


O mais correto seria chamá-las de notas de preparação. São de difícil audição e definição, quando ouvidas no decorrer de uma cantada.


Essa dificuldade é tão grande que continuam ensinando serem "te-tés". Os curiozeiros antigos e que permanecem afastados dos torneios, ouvidos por mim, nem as conhecem. Ficam surpresos quando a elas nos referimos. Esta seria a razão da não menção, segundo entendo, na capa do disco de comemoração. Omissão que não seria admissível se possuíssem os recursos técnicos de hoje, pois são, simplesmente, dez em um canto, primeira e segunda parte. Via computador é facílimo, pois podemos separá-las, ouvi-las dezenas, centenas de vezes. Compará-las, medi-las na sua extensão e altura. Não venham alguns dizer que estão escutando até a respiração dos curiós, como já ouvi, pois não é confiável, basta olharmos para 10 anos atrás, quando esses superouvidos eram mais novos e somente se falva na preparação do samaritá, assim mesmo não definiam a sua grafia, somente notavam a sua falta, pois o "Quim-Quim" da virada, juntava-se ao "uí-uí", o samaritá, quebrando a harmonia do canto. Nunca ouvi alguém falar em nota de preparaçao antes do que eles chamam segundo "Quim-Quim", ou antes das batidas de praia. Creio mais que os curiozeiros e quando falo curiozeiros, falo de criadores, fazedores de pardos, juízes, etc. percebiam mais a sua falta do que ouviam o seu som.


Hoje, ouvir essas notas ficou mais fácil, pois, além de termos a certeza da sua existência, estamos preparados. Sabemos que entre o "Ti-Tu-í" (entrada) e o "Quim-Quim-..." (Tim-Tim-...) existem duas notas. Depois do "Quim-Quim-..." (Tim-Tim...) e a batida de praia aparecem outras duas. Entre o "Quim-Quim", de virada e o samaritá "Uí-Uí", mais duas. Sabendo da presença dessas notas, deixamos de fixar-nos nas notas principais e passamos a perceber as de preparação. Mal comparando, parece a estória do "ovo de Colombo".


Justiça se faça também ao fato de que ouvir uma nota isolada através de computador é muito diferente do que ouvi-la em uma cantada. No computador ouve-se a presença, por exemplo, de um "m", com muita clareza, ao passo que durante uma cantada, ao vivo, ou através de gravação a dificuldade aumenta, percebe-se mais um "Qui" ou um "Ti", pois estou convencido que é "Tim".


Outro ponto observado é com referência às notas de entrada. São três: "Ti-Tu-í". Aqui podemos fazer uma observação. A segunda nota pode ser ouvida como um "tuí", tendo a vogal final curta, emendando com a terceira nota "i", que aparece prolongada, uma vez que o seu desenho gráfico é alongado, às vezes assemelhando-se a um "il". Nos cantos antigos a primeira, na maioria dos cantos é muito baixa, havendo necessidade, inclusive de ser ampliada, para ser ouvida. Porém, é inquestinonavel que são três desenhos, portanto, três sílabas, com três sons, todos separados.



Continua na próxima edição !



Fonte: Revista Pássaros. Ano 10 - Nº 49, pp. 16-7

3 comentários:

  1. Caro amigo, como faço para colocar o propaganda do meu blog aqui no seu, quero dizer, quanto custa?
    Um abraço!
    criadouroshekinah@gmail.com
    http://criadouroshekinah.blogspot.com/

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  2. Olá Criadouro Shekinah, obrigado por seu interesse, iremos entrar em contato via e-mail. Abraços,

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  3. Parabéns pelo seu blog! Olha, meu namorado e futuro esposo é um amante do esporte e eu não entendo nada, nem tinha idéia de como é enorme o numero de pessoas que praticam esse esporte.Fiquei maravilhada ao sairmos um dia, apenas um dia e por onde ele me levava só se falava nos belos bichinhs.rsrsrsr...Agora através do seu blog conheço mais e melho este belo esporte. Parabéns!!

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