sábado, 19 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE III


Edgard Osmar de Carvalho


Continuação ...



>Galador



Além das fêmeas, é lógico, será preciso a compra de um macho, de preferência preto, porque a criação poderá ser iniciada imediatamente. A criação com filhotes machos pardos é muito mais rara e difícil.


Um curió galador facilitará a formação de filhotes fêmeas em fêmeas criadeiras. Se possível, de bom canto, não precisando ser necessariamente um grande repetidor. A experiência mostra que a transferência genética, às vezes, ocorre através de pássaros que não se sobressaíram devido a erros no ensinamento. Alerto aos iniciantes que um curió de bom canto como galador constante ainda é um tabu entre os criadores, pois tendem a perder a qualidade do canto. Contudo, a experiência me mostrou que um bom curió, de canto super clássico, se acasalado com uma única fêmea, permanecendo com esta por toda temporada da criação e sendo usado muito esporadicamente para galar outras, apresenta-se, inclusive, com um crescimento do seu potencial. Porém, essa prática demanda muita experiência, que não recomendo aos iniciantes, ou a criadores com pouca capacidade de observação do comportamento do curió.


O mais aconselhável para quem inicia é a aquisição de um macho de boa procedência, embora não possua qualidade de canto, pois é mais barato, acasalando-o com uma fêmea filhote (deixe-os juntos permanentemente, retire-o, contudo, algumas vezes ao dia, para colocar com outras fêmeas, somente por alguns minutos, retornando-o à fêmea original).


Esse manuseio fará com que o iniciante aprenda a reação dos pássaros, bem como os acostumem a sair e a entrar nas gaiolas criadeiras.


Assim, haverá a possibilidade bem maior de se conseguir fazer do primeiro filhote fêmea uma fêmea criadeira. Quando esta botar os primeiros ovos e estiver chocando por três a quatro dias, pode-se tirar o macho e iniciar o mesmo procedimento com a segunda fêmea e assim sucessivamente com as demais. Dessa maneira se formarão algumas fêmeas criadeiras, facilitado pela presença constante do macho.


Esse sistema de permanência do macho com as fêmeas, no criadouro, dificultará o aproveitamento dos filhotes machos para aprendizagem, já que terão ouvido o pai cantar, prejudicando totalmente o ensinamento através de método artificial (discos, CDs, fitas, etc.). Apesar disso, teremos aprendido muito em termos de criação, podendo aproveitar os filhotes de fêmeas no próximo ano, a partir do qual trabalharemos a fim de que as fêmeas sejam galadas pelos machos e estes afastados dos filhotes que serão submetidos desde o início, mesmo dentro dos ovos, ao aprendizado de um canto da preferência do criador. Neste caso, os machos criadores serão apresentados às fêmeas somente para galar.


Outro assunto que devemos abordar é a quantidade de galas que uma fêmea deverá receber. Apesar de tudo que tenho ouvido a respeito, de outros criadores, minha convicção é a de que a gala efetivada no penúltimo dia, pela manhã, antes da postura, é a que produz efeito. Exemplo: fêmea galada no dia dois e que bote o primeiro ovo no dia quatro, pode botar até três ovos que estarão fertéis. Qualquer outra gala anterior ou posterior ao dia dois (pela manhã), com postura no dia quatro, terá comprometido algum dos ovos ou todos. A gala se bem feita, por curió experiente e fêmea já criadeira, basta uma. Os filhotes nasceram no 12º e 13º dia. Sairão do ninho também com 12 ou 13 dias.



>Anilhamento



Costumo anilhá-los no dia que saem do ninho, quase que imediatamente à percepção da sua saída. Se demorar para anilhá-los, após um ou dois dias de poleiro, poderemos ter dificuldades em colocar o anel, o que requererá experiência e muito cuidado. É preciso atenção para esse ato. Se anilharmos mais cedo, com 10 dias por exemplo, ainda quando estão no ninho, há uma tendência dos filhotes não permanecerem mais no ninho, procurando pular para fora, o que que poderá provocar acidentes, como quebra de perna ou asa.


Com 32 a 35 dias ocorre a separação dos filhotes. Pessoalmente separo-os somente com 35 dias, mantendo-os juntos, em uma gaiola, por mais dois dias, após o que os separo definitivamente. Com essa idade, muito provavelmente, já saberemos qual é o macho, se não forem duas fêmeas. Não tenho fórmula para identificá-los. Todas que conheci apresentaram-se falhas. Só identifico o macho pelo "Corricho", que é mais longo, frequente. Ele "corricha" voando, gradeando a gaiola. A fêmea também "corricha", mas quase parada no poleiro e não de forma continuada. Separados os machos é só colocá-los próximos a um bom mestre, ou através de fitas cassetes ou CDs, longe de outros machos ou fêmeas cantadeiras.


Para finalizar esta parte da matéria, esclareço que o suceso na criação de curió é basicamente produto da observação, arrisco, inclusive, afirmar que 70% seja observação e eliminação drástica dos problemas que vão sendo percebidos, e os 30% restantes, aprendizado através de livros, artigos como este e informação de outros criadores.



>Luzes



Recomendo que deixem no criadouro quantas luzes acesas forem necessárias, de maneira que forme uma penumbra, a fim de que as fêmeas não se assustem durante a noite. Utilizo no meu criadouro lâmpadas de 220 volts, 40 watts, pois além de gastarem pouca energia - que é de 110 volts - duram dois a mais anos. Dessa forma, os pássaros podem ver a presença de algum inseto e até mesmo lagartixas que visitam as gaiolas a procura de alimento, sem contar barulhos externos, luzes que se acendem na casa, etc.



ALIMENTAÇÃO



>Observações iniciais



A alimentação e a higiene talvez sejam os fatores de maior importância no sucesso da criação e da manutenção de curiós saudáveis em cativeiro. É bastante variável de criador ou de "curiozeiro" para criador, dependendo dos hábitos alimentares do plantel. Este é um assunto que tem me preocupado ultimamente, principalmente levando-se em conta tão somente o tempo de vida dos atuais curiós criados em gaiola, bastante abaixo dos nativos. Atribuo esta constatação em grande parte à alimentação que é administrada, não se esquecendo também da falta de exercícios aos quais são submetidos. Essa pesquisa e observação do meu plantel, superior a 200 fêmeas e aproximadamente 15 machos criadores, além de dois pretos de canto, tem me levado a abandonar uma série de alimentos e à introdução de outros já balanceados cientificamente, facilitando o trabalho e a manutenção da higiene do criadouro e das gaiolas, alidado à utilização de gaiolões e voadeiras, principalmente na época da muda.


Normalmente são utilizados na alimentação diversas sementes, verduras e legumes, tais como: alpiste, painço (este último dos mais variados tipos - branco, verde, amarelo, etc.), arroz em casca, perila, senha, cânhamo, milho verde, ovo cozido, larvas, cupins, almeirão, chicória, talo de couve, pepino, quirela de milho, areia grossa, pó de ostra, osso de ciba, ração caseira ou industrializada, broa e uma interminável lista de outros alimentos. Como disse, depende do criador o fornecimento de alguns desses alimentos. A larva, o cupim, o ovo cozido, o milho verde e o sorgo são utlizados geralmente na época de criação. Tenho ouvido com certa constância, alguns curiozerios, principalmente os mais antigos, afirmarem que seus primeiros avinhados eram alimentados somente com alpiste, arroz em casca e água e viviam 20, 30 anos. É correta essa afirmação, mas não podemos esquecer que lidávamos (ou lidavam) com curiós mateiros ou pássaros filhos de mateiros que possuíam organismo mais resistente, furto da alimentação nativa, variada e rica em proteinas, que eram absorvidads de acordo com as suas necessidades.


Isso não acontece em cativeiro, onde comem o que seu dono oferece sem conhecer, muitas vezes, as suas necessidades alimentares. Portanto, aprisionados como estão, cabe a nós encontrarmos esse equilíbrio que lhes poderá proporcionar vida longa e resistência às doenças. Esclareço que no decorrer desses 25 a 30 anos criando, estudando e observando a saúde do curió em cativeiro, utilizei, em diferentes épocas, todos os alimentos acima citados, complementando-os, inclusive, com vitaminas dos mais variados tipos, bem como medicamentos, quer preventivos como curativos.


Hoje só utilizo esses complementos vitaminados ou remédios preventivos ou curativos, químicos, muito excepcionalmente. Não podermos esquecer que é imperioso o uso desses produtos, mas somente quando diagnosticado por veterinário competente ou criador com larga experiência e usados de acordo com a prescrição ou indicação da bula. Nada de gotinha a mais, prestando muita atenção no tamanho do conta-gotas, pois o excesso de alguns poderá esterilizar boa parte do plantel, ou mesmo prejudicar a fertilidade de machos e fêmeas.


Talvez o aspecto alimentação e canto do super clássico Ana Dias, fidelidade da letra do canto, melodia e ritmo, tenham sido os assuntos que mais tempo tenho dedicado.


Contudo, pelo que se tem observado, todos os criadores devem estar com as mesmas preocupaçóes, pois, embora para alguns impere somente o aspecto comercial, o que será inegavelmente muito saudável para o desenvolvimento dos nossos pássaros, para a grande maioria, como é o meu caso, a preservação e o hobby são os principais objetivos.



>Racionalização



Assim sendo, a racionalização nos alimentos tem sido buscada, fazendo com que eu utilize, para os pássaros adultos, exclusivamente uma mistura de sementes. Uso as misturas da Cede ou da Quiko para silvestres, por serem bastante completas em variedades. No início, quando ainda era uma novidade no mercado, procurei ajuda de um laboratório veterinário para o exame do teor de umidade, possível presença de fungo, etc., sendo totalmente aprovada. Lembro aos amigos iniciantes que um dos maiores erros que cometemos é o de lavar as sementes. Por mais que tentemos secá-las, restará a incerteza do teor de umidade permanecido, o que poderá ser fruto, no futuro, de produção de toxinas altamente prejudiciais às aves.


Essa sementeira aliada ao uso de uma ração balanceada e específica para o curió, adicionando-se um mineral de qualidade, trouxe-me a convicção de estar proporcionando à minha criação uma alimentação perfeitamente equilibrada. Não basta ser uma ração de boa qualidade, como a Cede para curiós e bicudos, usada por mim, sendo necessário, também, que ela seja bem armazenada, tanto pelo distribuidor como pelos varejistas e curiozeiros, em locais secos, claros, salvos de insetos, animais predadores e aves silvestres, inclusive, rigorosamente dentro dos períodos de validade. O grande problema no uso de uma ração industrializada e balanceada é acostumar o pássaro a comê-la.


Dependerá substancialmente da criatividade do criador, que deverá se utilizar de todos os artifícios possíveis. Usando, a princípio, em pequenas quantidades, misturada a todos os alimentos, notadamente aqueles mais apreciados pelos seus curiós. Inicia-se fornecendo uma colher de café em um ovo cozido (clara e grema). Mistura-se ao mineral ou ao painço, alimento muito apreciado pela facilidade de trituração.


Depois de alguns dias, aumenta-se a quantidade. Duas colheres, por exemplo, e assim progressiva e sucessivamente. Creio que o ideal é administrá-la na proporção de uma colher de sopa, bem cheia, para um ovo cozido. Deve-se, também, fornece-la seca, em porta-vitaminas ou dedais. Como podem observar, aos pássaros adultos somente é fornecida a alimentação acima, acrescida de água no bebedouro e banheira que deixo na gaiola, no máximo, por 30 minutos.



>Período da Criação



Na ocasião da criação, além dos alimentos acima, sementes, ração seca e mineral, mas com base nos mesmo alimentos, forneço dois outros: a ração Cede, mas agora umedecida com ovo cozido. Uma colher de sopa bem cheia para cada ovo cozido (clara e gema), este passado na peneira ou espremedor de batatas. O uso de ovo tem várias razões para ser recomendado: aumenta a quantidade de proteínas, são muito bem aceitos pelas fêmeas e têm a propriedade de umedecer a ração. Talvez fosse possível administrar essa ração simplesmente umedecida com água, porém náo cheguei a esse estágio por acomodação ou porque esta outra forma esteja dando resultado. Outro alimento é a mistura de sementes para silvestres, aquela fornecida normalmente nos cochos, que umedeço com água, durante 30 a 60 minutos aproximadamente. Na água que será umedecida as sementes, o criador, se o desejar ou for de seu hábito, poderá adicionar algumas gotas de vitaminas (aminoácidos, ferro, vitamina E, etc.). O único inconveniente deste procedimento é que alguns complementos alimentares possuem açúcar ou mel, o que poderá atrair formigas. Esses alimentos umedecidos, tanto a ração como as sementes, são de uma utilidade incomparável, pois são fáceis de triturar, facilitando o trabalho das fêmeas, propiriciando mais tempo para alimentarem a si e aos seus filhotes, além de voltarem ao ninho com maior brevidade.


Quero, finalizando este item, lembrar mais uma vez aos caros amigos criadores, principalmente aqueles que se inciam, a necessidade de fornecer essa alimentação umedecida em perquenas quantidades, várias vezes ao dia, retirando as sobras ao entardecer. Elas deverão ser preparadas diariamente. Essas duas últimas providências farão com que os pássaros não se alimentem de sobras que provavelmente estejam azedas, portanto formando toxinas altamente prejudiciais à saúde das aves, como salientei anteriormente.



>Cuidados preventivos



Além desses alimentos que considero altamente equilibrado às necessidades dos curiós tenho por hábito tomar alguns cuidados preventivos. Não coloco pássaro em uma gaiola sem que ela esteja lavada e desinfetada. Anualmente procedo a uma lavagem e desinfecção do criadouro e gaiolões, inclusive, evernizando-os. Os utensílios como porta-vitaminas, banheiras, bebedouros, etc. são desinfetados quinzenalmente. Quanto aos pássaros, faço desvermifugação duas vezes por ano, antes e depois do período da criação. Providencio, também, uma vez por ano exame de fezes, tanto específico em alguns curiós, com de plantel. Dependendo do resultado fornecido pelo laboratório veterinário, procedo o tratamento do grupo específico.



>Fornecimento de vitaminas



Quanto ao fornecimento de vitaminas, tenho evitado administrá-las a não ser que perceba a carência de algum complemento, o que pode ser feito pela observação do criador, com bastante experiência, ou de médico veterinário.


Apesar dessa aparente restrição aos complementos vitaminados, tendo em vista o equilíbrio da alimentação acima referida, menciono duas que invariavelmente se fazem necessárias: o ferro, por ocasião da muda de penas e a vitamina E, no mês que antecede o início da criação.



Continua na próxima edição ...



Fonte: Revista Pássaros. Ano 10 - nº 49. pp. 09-11

Um comentário:

  1. Edgard,parabéns pela aula!! muito obrigado por poder desfrutar do seu vasto conhecimento sobre criação de curiós.
    obrigado também ao amigo Pêcego,por dispor de tantas matérias exelentes como está.
    Abraço a todos !
    Jader Pancelli, São Bernardo do Campo ,SP.

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