domingo, 27 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE V

Edgard Osmar de Carvalho



>Perguntas sem respostas



Outro fator que me levou a desenvolver este estudo sobre o canto do curió foi a falta de respostas, não só minhas, mas de alguns amigos, que, como eu, perguntavam: onde está a alteada de jurubatuba ? Que nota "tói" é essa que nã ouço ? São "té-tés" realmente, pois não percebo com clareza esse som ?


Quando questionamos, juízes, criadores e curiozeiros com as mais variadas experiências, demonstravam de forma clara, desconhecimento total. Outros se furtavam, de forma evasiva a darem a sua opinião, mudando imediatamente de assunto. Não tendo respostas, fui à pesquisa e ao estudo que serão detalhados a seguir. Esclareço que conversei com dezenas de pessoas, inclusive de forma direta com juízes, sendo os melhores na minha opinião, dos que conheço. Uns não souberam me dizer qual era a nota da alteada. Outro disse que era "Tó". Um deles que era "tói". Algumas das pessoas consultadas ficaram de pensar para responder. Já que passaram meses, alguns até anos e nenhuma resposta veio. Desconhecimentos esses em um grupo tão vasto é de assustar-se. Quantos outros sons não seriam descobertos se a mesma pergunta fosse feita a outros ? Ressalto, contudo, que uma das pessoas com quem conversei, das dezenas, assim mesmo por telefone, curiozeiro do passado, pouco frequentador dos torneios mas ainda atualizado, afirmou-me que a alteada do juruba era realmente uma nota parecida com o samaritá, completando, inclusive, que ela não era mais ouvida nos curiós do presente. Essa observação me pareceu bastante interessante diante do quadro de desconhecimento total, constatado e descrito.



>Estudo e pesquisa


O canto para ser super clássico, linha Ana Dias, tem que ser aquele originário dos primeiros discos produzidos, melhorados é lógico, em termos de qualidade de gravação e correção de deficiências, referentes a sons mal produzidos em muitas e diferentes cantadas. Mas nada de criar-se sons produzidos por sílabas inexistentes, como toá, tói, totói, titi, teté, toa, titói, etc. Outro detalhe: as notas do curió Ana Dias super clássico são separadas. Não existem notas ligadas, tanto nas principais, como nas de preparação, ou "tété", didaticamente falando. Se o "teté" for um único desenho gráfico, portanto uma só silaba, não é Ana Dias. É outra letra de música.


Faço essas observações, como outras que farei, baseado em estudos de quatro anos, passando pelo computador, em programa específico, todos os discos do Ana Dias inicialmente citados, como todos os modernos, após período de propriedade da marca Ana Dias do amigo Valter Moretti, além dos discos do Xodó (mestre, xodó e laranja), do Patrício, Pachá I, Pachá 2, Brilhante, Tiradentes, Marajá, Macalé, Genésio, Barão, Montreal, Indaiá, Pardo do Gijo, Princípe Negro e fitas do São Paulo, Sereno, Colonial, Barbito, etc. Além disso, incluí umas duas ou três centenas de fitas gravadas profissionalmente, bem como gravações ao vivo de vários curiós.


Esclareço que examinei esses cantos usando o computador, como disse antes, mais no sentido de constatar as variações e mudanças que ocorreram no decorrer dessas últimas três décadas, no que consideramos o real canto do curió Ana Dias. Mudanças essas resultantes de gravações mal feitas, algumas piratas, outras mixadas, que alteravam os sons originais, que não devem se perpetuar, nem ser aceitas por aquelas pessoas que querem ver essa música maravilhosa preservada na sua originalidade.


Tenho visto pessoas fazendo trabalhos excelentes de divulgação, ensinamento, preservação, etc., que estão fora da linha Ana Dias, mas sempre se referindo ao que o seu pássaro canta, ou divulgando a letra da música que seu curió expressa. Temos que concordar com o surgimento de pássaros diferentes do canto do Ana Dias pois, se não o aceitassemos, estaríamos excluindo um canto maravilhoso como é o do 'mestre'-xodó, que poderia cantar em qualquer torneio como super clássico, em outra estaca é claro, não na linha do Ana Dias, pois a letra do seu canto é totalmente diferente, mas que preservado na sua originalidade, não como no selo laranja, é simplesmente maravilhoso. Sim, é difícil os filhotes aprenderem. Paciência. Não é por isso que vamos mudar a sua letra ou a ordem melódica do seu canto.


Depois de tudo examinado e baseando nos exclusivamente nas gravações mais antigas, elaboradas no início da década de 70, mais precisamente em 71, e comparando-as com as demais já citadas, somos forçados a afirmar que falar em "te-té", como nota de preparação, só em termos didáticos. Para maior clareza do que se segue, darei a seguir uma relação dos termos que serão utilizados no desenvolvimento do raciocínio:


*Grupo de Notas - São as duas ou três notas principais do canto. Exemplo: "Quim-Quim" (virada de canto); "Uí-Uí" (samaritá); etc. Estas notas poderão ser referidas acompanhadas das de preparação, se for o caso;


*Primeira Parte - São as notas principais e de preparação que formam a entrada de uma cantada. Neste primeiro conjunto não há o samaritá.


*Segunda Parte - São as notas principais e de preparação que vai do "Quim-Quim", de virada, até a batida de praia de encerramento. Neste há o grupo do samaritá.


Como vimos, serão duas partes, com um único samaritá. Um canto completo, portanto. Todos os posteriores se forem referidos partirão do "Quim-Quim", de virada.


Afirmei acima que não se pode falar em "te-tés", de forma simplória como se pretende colocar, porque dos seis existentes na segunda parte, dois deles repetidos na primeira parte, não são iguais. Apesar de não serem rigorosamente "te-tés", coloco-os, como ilustração, na grafia do canto feito no início desta matéria.


O mais correto seria chamá-las de notas de preparação. São de difícil audição e definição, quando ouvidas no decorrer de uma cantada.


Essa dificuldade é tão grande que continuam ensinando serem "te-tés". Os curiozeiros antigos e que permanecem afastados dos torneios, ouvidos por mim, nem as conhecem. Ficam surpresos quando a elas nos referimos. Esta seria a razão da não menção, segundo entendo, na capa do disco de comemoração. Omissão que não seria admissível se possuíssem os recursos técnicos de hoje, pois são, simplesmente, dez em um canto, primeira e segunda parte. Via computador é facílimo, pois podemos separá-las, ouvi-las dezenas, centenas de vezes. Compará-las, medi-las na sua extensão e altura. Não venham alguns dizer que estão escutando até a respiração dos curiós, como já ouvi, pois não é confiável, basta olharmos para 10 anos atrás, quando esses superouvidos eram mais novos e somente se falva na preparação do samaritá, assim mesmo não definiam a sua grafia, somente notavam a sua falta, pois o "Quim-Quim" da virada, juntava-se ao "uí-uí", o samaritá, quebrando a harmonia do canto. Nunca ouvi alguém falar em nota de preparaçao antes do que eles chamam segundo "Quim-Quim", ou antes das batidas de praia. Creio mais que os curiozeiros e quando falo curiozeiros, falo de criadores, fazedores de pardos, juízes, etc. percebiam mais a sua falta do que ouviam o seu som.


Hoje, ouvir essas notas ficou mais fácil, pois, além de termos a certeza da sua existência, estamos preparados. Sabemos que entre o "Ti-Tu-í" (entrada) e o "Quim-Quim-..." (Tim-Tim-...) existem duas notas. Depois do "Quim-Quim-..." (Tim-Tim...) e a batida de praia aparecem outras duas. Entre o "Quim-Quim", de virada e o samaritá "Uí-Uí", mais duas. Sabendo da presença dessas notas, deixamos de fixar-nos nas notas principais e passamos a perceber as de preparação. Mal comparando, parece a estória do "ovo de Colombo".


Justiça se faça também ao fato de que ouvir uma nota isolada através de computador é muito diferente do que ouvi-la em uma cantada. No computador ouve-se a presença, por exemplo, de um "m", com muita clareza, ao passo que durante uma cantada, ao vivo, ou através de gravação a dificuldade aumenta, percebe-se mais um "Qui" ou um "Ti", pois estou convencido que é "Tim".


Outro ponto observado é com referência às notas de entrada. São três: "Ti-Tu-í". Aqui podemos fazer uma observação. A segunda nota pode ser ouvida como um "tuí", tendo a vogal final curta, emendando com a terceira nota "i", que aparece prolongada, uma vez que o seu desenho gráfico é alongado, às vezes assemelhando-se a um "il". Nos cantos antigos a primeira, na maioria dos cantos é muito baixa, havendo necessidade, inclusive de ser ampliada, para ser ouvida. Porém, é inquestinonavel que são três desenhos, portanto, três sílabas, com três sons, todos separados.



Continua na próxima edição !



Fonte: Revista Pássaros. Ano 10 - Nº 49, pp. 16-7

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE IV

Edgard Osmar de Carvalho




Canto Super Clássico - Linha de Canto Ana Dias



>Considerações preliminares



Há mais de três décadas iniciei o aprendizado do canto dos curiós Ana Dias, Xodó e Patrício. No período anterior a 1970, tive a convivência com os curiós mateiros oriundos, na sua grande maioria, da Alta Paulista, tais como os do Rio do Peixe, Lambari, Batalha etc., além de alguns vindos de outros Estados, principalmente Mato Grosso. Portanto, desconhecia aqueles cantos que vieram formar o super clássico, da linha de canto do Ana Dias. Contudo, em 1971, com os lançamentos dos discos selo vermelho, laranja e marrom, comecei, com alguns amigos da região de Tupã, a conhecer o canto praia. O aprendizado foi feito de forma grosseira pois, apesar de ouvirmos os cantos daquelas gravações, não tínhamos ninguém com conhecimentos suficientes para orientar-nos, já que eram cantos imperfeitos, cortados, sem entrada, na sua maioria incompletos. Faltava o contato com os curiozeiros experientes dos grandes centros, como São Paulo, Campinas, Piracicaba, Santos, Ribeirão Preto, Bauru etc. A comunicação era difícil, inclusive as viagens. Apesar disso, na década de 70, tive a oportunidade de conhecer o primeiro Curió Praia Grande, adquirido por um amigo de Tupã. Pássaro esse de nome Porco, oriundo do litoral paulista, excepcional repetidor. Nessa época, já tinha iniciado as primeiras tentativas para a criação em cativeiro, sendo meu primeiro curió efetivamente criado e nascido em cativeiro - o Soberano - pai de todos os hoje existentes, adquirido ainda pardo.



>Fase do aprendizado



As comparações do canto praia grande, cantado pelo curió Porco e o canto do Ana Dias foram inevitáveis. Para melhor assimilação do canto deste último, prendíamos o disco com o dedo, na tentativa de ouvirmos melhor as notas. Não existia equipamento com tecnologia que possibilitasse alterar a frequência, repetir notas isoladas, compará-las, identificá-las com precisão, como é feito hoje via computador. Mas, mesmo assim, usando aqueles equipamentos e aqueles discos, conseguimos fazer alguns pardos, como o Melodia, ótimo quando pardo, Charmoso, Dominó, Milionário, um selo verde, até hoje lembrado por aqueles que o conheceram.


Apesar da carência de comunicação com os grandes curiozeiros da época, fazíamos progressos pela dedicação e amor, além da admiração pelo canto do curió.



>Fase de finalização de aprendizado



Com minha mundança para Campinas e conhecendo o Luiz Tristão, grande conhecedor do canto do curió, começamos a somar aos nossos conhecimentos anteriores, informações importantes. Esse amigo foi professor também de vários outros companheiros que hoje se apresentam como conhecedores e de boa competência. Apesar dessa iniciação, não me impedia de apresentar, quando achava estarem prontos, e sempre com sucesso, alguns pardos que se mostraram realmente bons, como Surpresa, São Paulo, Águas de Março (este oriundo de Tupã, mas trazido ainda sem muita definição de suas qualidades). Foi também um período de confirmação, que o básico ou o conhecido nos grandes centros já havia sido absorvido no passado, uma vez que lá, como aqui, dependíamos dos discos antigos e dos nossos ouvidos, que demonstraram, com o passar do tempo, terem sido incompetentes para uma análise correta dos sons emitidos pelos curiós.


Nessa época possuía um pardo de nome São Paulo, curió de um samaritá, selo marrom antigo, a meu ver de canto completo, sem falta de notas. Fiz uma gravação do seu canto, selecionando os melhores, pretendendo tocá-la para os futuros pardos, pois estava vendendo o São Paulo. Convidei um amigo, talvez o maior conhecedor, na época, do canto do curió, para ouvir a gravação. Ouviu com atenção várias vezes, sentenciando no final: "Não toque essa fita para os pardos. Falta uma nota no canto. Depois do segundo Quim-Quim." Não explicitou qual nota era, mas constatou a sua falta. Hoje, usando o computador, examinei aquela fita, que apesar dos anos decorridos, permanecia no meu arquivo. Constatei que não falta a nota. Ela é tão marcante e audível como no disco selo marrom. A pergunta que faço é o que teria levado a esse engano ? É o mesmo desconhecimento e desencontro que perdurou até os dias de hoje, com essa mesma nota e com as notas de preparação. Somente passaram a ser ouvidas ou percebidas depois que algum equipamento eletrônico do presente detectou a sua existência.



>Era moderna



As imperfeições das gravações do passado do curió Ana Dias começavam a ser sanadas a partir da década de 80 por alguns curiozeiros, principalmente criadores que deslumbravam a possibilidade de montar fitas emendando os cantos completos existentes naqueles discos de vinil. Vários trabalhos estavam acontecendo, até que surgiu um trabalho realmente pioneiro e de qualidade: o disco selo prata em comemoração aos 30 anos de um Mestre, lançado pelo amigo Valter Moretti, a quem o canto Ana Dias super clássico deve tudo.


Neste disco, houve a primeira oportunidade de um curiozerio conhecedor em nortear as cantadas ali gravadas, com integração entre letra e música; regular o andamento de cada canto, ou seja, a sua duração; atribuir à música uma tonalidade uniforme; deu-lhe ritmo, ou seja, constância; e, finalmente, melodia, composição musical harmônica. Algumas dessas qualidades não observadas nos discos originais, uma vez que o Ana Dias é do início da década de 70, época das gravações estudadas, e tratava-se inequivocamente de um pássaro em aprendizado.


O amigo Moretti fez mais, certamente auxiliado por alguns companheiros curiozeiros que, como ele, conheciam ao vivo o canto dos pássaros nativos possuidores das notas principais, que vieram a ser formadoras do canto super clássico, notas ou 'palavras', constituídas de sílabas, registradas expressamente na contracapa do disco de comemoração, cantadas ou 'FALADAS' por essa ave compositora que foi o Ana Dias.



>Quim-Quim



Grande repetidor do seu canto original, foi com o tempo aperfeiçoando as notas do canto Praia Grande. Posteriormente, como inteligente e bom cantor, foi incorporando as notas "Quim-Quim" (virada) e a batida de praia "Tué-Tué-Tué". Formava-se, assim, um curió Praia Grande.


Mas foi além, assimilou de outros curiós, também do litoral paulista, a nota samaritá "Uí-Uí", assim como a alteada do Juruba. Todas essas notas, com exceção da alteada, foram citadas e registradas na capa desse disco de comemoração. Quanto à última, a alteada do Juruba, a sua grafia não foi mencionada, mas houve a afirmativa de que ela 'assemelhava-se à nota samaritá'. Só para lembrar, assemelhava-se ao "uí-uí". Esse registro, esse depoimento expresso do amigo Moretti, é um fato histórico que não pode ser esquecido e nem contestado ou modificado, mesmo com alegações de que alterações efetivadas facilitariam o aprendizado dos filhotes.


Apesar de haver delineado o som da alteada, não fez nenhuma referência às notas de preparação, que eram em número significativo, pois já nos discos selos vermelho, laranja e marrom, eram compostas de três grupos, com seis notas, quatro das quais repetidas na entrada, ou como denomino, primeira parte. Por que teria isso acontecido ? Tenho plena convicção de que não foi falta de competência, pois eram profundos conhecedores dos cantos da época e das suas mais diversas variações, o que só esse detalhe já os qualificava, mais do que os nossos ouvidos, hoje, que convivemos com uma única linha de canto.


Creio que a razão teria sido a mesma deficiência do ouvido humano que não permitia percebê-las. A alteada era ouvida, pois é uma das notas principais, formadoras do canto super clássico, somente não puderam definir sua grafia.



>Ritmo



Todos nós sabemos que o canto de um pássaro canoro é uma música que contém andamento, ritmo, melodia e harmonia etc., mas que também possui uma letra, que são as sílabas ou 'palavras', aprendidas, criadas e desenvolvidas pelo pássaro ou seus antecedentes. Se torna imprescindível que haja uniformidade da 'pronúncia' da sílaba com a nota musical a ser emitida. Há casos de regresso, filhos que não conseguem aprender o que seus pais cantam e de progressos, exemplares que são melhores que seus antecedentes. Assim foi o curió Ana Dias que, retirando notas importantes de outros semelhantes, criou um canto maravilhoso. Digo mais, não só aprendeu como criou, pois introduziu as notas de preparação, afim de que seu organismo conseguisse emitir as principais, dando harmonia à melodia da música. Foi além, criou um grupo de sílabas (notas) ou palavras; juntou o "Quim-Quim" da virada, com a alteada do Juruba, portanto, compondo um novo grupo, totalmente diferente dos originários de seus semelhantes. A meu ver, esse "Quim-Quim", influenciado pela alteada, transformou-se em "Tim-Tim".


Dessa maneira, não é admissível que se queira, atualmente, introduzir novas notas ao seu canto. O canto super clássico é aquele dos discos de 1971, canto esse melhorado com a qualificação das notas, regularidade das cantadas, repetição etc., constante do disco de comemoração aos 30 anos de um Mestre. Momento, inclusive, em que se deu pela primeira vez a classificação de "Canto Super Clássico" linha Ana Dias. Tudo que surgir modificado, que gravações ou curiós cantando, é outro canto, não se trata da linha Ana Dias. Espero que novos cantos, alguns já com bastante divulgação, consigam nos convencer da sua beleza, como foi o Ana Dias.


Além do lançamento do disco selo prata, que se trata do marco inicial de uma nova fase de aperfeiçoamento do canto Ana Dias, fez mais o amigo Moretti. Sempre preocupado na divulgação e qualificação, sem falar na preservação desse canto, lançou em março de 1993, trabalho esse apreciado por três outros amigos, profundos conhecedores do canto desse pássaro, um 'folhetim' historiando e descrevendo, sílaba a sílaba ou 'nota a nota', a composição do canto do Ana Dias. Inclusive, fazendo referência pela primeira vez às notas de preparação. Apesar da qualificação das pessoas envolvidas, ouso, modestamente, discordar daquelas colocações que detalharei ao comentar os estudos e pesquisas realizadas nesses últimos quatro anos.



Continua na próxima edição !



Fonte: Revista Pássaros. Ano 10 - nº 49, pp. 12-16


quarta-feira, 23 de junho de 2010

CALENDÁRIO DE TORNEIOS - FEOSP 2010


CALENDARIO TORNEIOS FEOSP 2010





- AGOSTO:


- (01/8) - Botucatu C=C


- (01/8) - Piracicaba F/C= CACOTRI


- (08/8) - Jau F=BC F/C= CACOTRI F=AZ


- (15/8) - Vinhedo F/C= CB F/C= CACOTRI F/C=AZ CL=TICO


- (22/8) - Araçatuba C/F=CB F=CACOTRI


- (29/8) - Taubate C=C F/CL=CACOTRI



- SETEMBRO:


- (05/9) - Ourinhos C=CB F/CL=CACOTRI


- (12/9) - Sorocaba C=CB F/C=CACOTRI


- (19/9) - Bauru C/F=CB F/C=CACOTRI


- (26/9) - Botucatu F/CL=CACOTRI


- (26/9) - Joinville C=C



- OUTUBRO:


- (10/10) - Jundiaí C=C F=COTRI C=TRI C=PI


- (17/10) - Campinas C=CB F/C=CACOTRI CL- AZ TICO


- (24/10) - Serca C/F=CB F=BC F/CL=CACOTRI F/CL=Azulão CL=TICO



- NOVEMBRO:


- (07/11) - Cubivale C/F=CB F/CL=CACOTRI F/CL=AZ (Jacareí)


- (14/11) - Araraquara C/F=CB F/C=CACOTRI F/CL=Azulão CL=Tico


- (21/11) - Serra Negra F=CACOTRI


- (21/11) - Curitiba C=C


- (28/11) - S.J.R.Preto C/F=CB F/C=CACOTRI



- DEZEMBRO:


- (5/12) - S.Manoel F/CL=CACOTRI F/CL=AZ C=PI


- (5/12) - Marilia C=CB


- (12/12) - Cubivale C=C 1ª Final de Curió (Jacarei)


- (12/12) - Santo André F/CL=CB F/CL=CACOTRI F=AZ


- (19/12) - Ribeirão Preto (aguardando as categorias)


- (19/12) - Balneário Camburiú C=C 2ªFinal de Curió



1 - Será enviado para todos os Clubes o roteiro para homologação no IBAMA, mesmo que esta tenha acontecido ainda em 2010.


2 - Ribeirão e região, será enviado amanhã em regime de urgência, roteiro de homologação, assim que chegar na FEOSP um novo ofício será enviado ao Ibama.


3 - Todos os Clubes constantes do calendário deverão preparar a documentação para pedir o Alvará de imedito.


4 - A documentação deverá ser enviada para FEOSP para conferência e, encaminhamento


5 - Haverá cancelamento nas seguintes condições:Se o clube não tiver documentação regular ou se for pedido fora do prazo


6 - Qualquer duvida, utilizar o http://www.torneios.org.br/ - contato ou falar com Eduardo FEOSP telefone 2693-3697






NOTA DOS EDITORES:


a) Onde estiver assinalado ao lado da cidade sede do torneio as siglas C=C, C=CB, F/C=CB ou C/F=CB é que ocorrerá isoladamente ou com outras categorias, o canto de Curió Praia Grande Clássico e Curió Pardo Praia Grande Clássico;


b) O torneio do CUBIVALE/SP de 12/12/2010 será a 1ª Etapa do Torneio dos Campeões, com a 2ª Etapa ou Final do referido torneio no BALNEÁRIO DE CAMBORIÚ/SC em 19/12/2010;


c) O Blog Curió Clássico & Torneios fará a cobertura de todo o campeonato que este ano terá duas etapas em Santa Catarina e uma no Paraná, divulgando os resultados das categorias de canto de curió Praia Grande Clássico e Pardo Praia Grande Clássico...FIQUEM LIGADOS !

sábado, 19 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE III


Edgard Osmar de Carvalho


Continuação ...



>Galador



Além das fêmeas, é lógico, será preciso a compra de um macho, de preferência preto, porque a criação poderá ser iniciada imediatamente. A criação com filhotes machos pardos é muito mais rara e difícil.


Um curió galador facilitará a formação de filhotes fêmeas em fêmeas criadeiras. Se possível, de bom canto, não precisando ser necessariamente um grande repetidor. A experiência mostra que a transferência genética, às vezes, ocorre através de pássaros que não se sobressaíram devido a erros no ensinamento. Alerto aos iniciantes que um curió de bom canto como galador constante ainda é um tabu entre os criadores, pois tendem a perder a qualidade do canto. Contudo, a experiência me mostrou que um bom curió, de canto super clássico, se acasalado com uma única fêmea, permanecendo com esta por toda temporada da criação e sendo usado muito esporadicamente para galar outras, apresenta-se, inclusive, com um crescimento do seu potencial. Porém, essa prática demanda muita experiência, que não recomendo aos iniciantes, ou a criadores com pouca capacidade de observação do comportamento do curió.


O mais aconselhável para quem inicia é a aquisição de um macho de boa procedência, embora não possua qualidade de canto, pois é mais barato, acasalando-o com uma fêmea filhote (deixe-os juntos permanentemente, retire-o, contudo, algumas vezes ao dia, para colocar com outras fêmeas, somente por alguns minutos, retornando-o à fêmea original).


Esse manuseio fará com que o iniciante aprenda a reação dos pássaros, bem como os acostumem a sair e a entrar nas gaiolas criadeiras.


Assim, haverá a possibilidade bem maior de se conseguir fazer do primeiro filhote fêmea uma fêmea criadeira. Quando esta botar os primeiros ovos e estiver chocando por três a quatro dias, pode-se tirar o macho e iniciar o mesmo procedimento com a segunda fêmea e assim sucessivamente com as demais. Dessa maneira se formarão algumas fêmeas criadeiras, facilitado pela presença constante do macho.


Esse sistema de permanência do macho com as fêmeas, no criadouro, dificultará o aproveitamento dos filhotes machos para aprendizagem, já que terão ouvido o pai cantar, prejudicando totalmente o ensinamento através de método artificial (discos, CDs, fitas, etc.). Apesar disso, teremos aprendido muito em termos de criação, podendo aproveitar os filhotes de fêmeas no próximo ano, a partir do qual trabalharemos a fim de que as fêmeas sejam galadas pelos machos e estes afastados dos filhotes que serão submetidos desde o início, mesmo dentro dos ovos, ao aprendizado de um canto da preferência do criador. Neste caso, os machos criadores serão apresentados às fêmeas somente para galar.


Outro assunto que devemos abordar é a quantidade de galas que uma fêmea deverá receber. Apesar de tudo que tenho ouvido a respeito, de outros criadores, minha convicção é a de que a gala efetivada no penúltimo dia, pela manhã, antes da postura, é a que produz efeito. Exemplo: fêmea galada no dia dois e que bote o primeiro ovo no dia quatro, pode botar até três ovos que estarão fertéis. Qualquer outra gala anterior ou posterior ao dia dois (pela manhã), com postura no dia quatro, terá comprometido algum dos ovos ou todos. A gala se bem feita, por curió experiente e fêmea já criadeira, basta uma. Os filhotes nasceram no 12º e 13º dia. Sairão do ninho também com 12 ou 13 dias.



>Anilhamento



Costumo anilhá-los no dia que saem do ninho, quase que imediatamente à percepção da sua saída. Se demorar para anilhá-los, após um ou dois dias de poleiro, poderemos ter dificuldades em colocar o anel, o que requererá experiência e muito cuidado. É preciso atenção para esse ato. Se anilharmos mais cedo, com 10 dias por exemplo, ainda quando estão no ninho, há uma tendência dos filhotes não permanecerem mais no ninho, procurando pular para fora, o que que poderá provocar acidentes, como quebra de perna ou asa.


Com 32 a 35 dias ocorre a separação dos filhotes. Pessoalmente separo-os somente com 35 dias, mantendo-os juntos, em uma gaiola, por mais dois dias, após o que os separo definitivamente. Com essa idade, muito provavelmente, já saberemos qual é o macho, se não forem duas fêmeas. Não tenho fórmula para identificá-los. Todas que conheci apresentaram-se falhas. Só identifico o macho pelo "Corricho", que é mais longo, frequente. Ele "corricha" voando, gradeando a gaiola. A fêmea também "corricha", mas quase parada no poleiro e não de forma continuada. Separados os machos é só colocá-los próximos a um bom mestre, ou através de fitas cassetes ou CDs, longe de outros machos ou fêmeas cantadeiras.


Para finalizar esta parte da matéria, esclareço que o suceso na criação de curió é basicamente produto da observação, arrisco, inclusive, afirmar que 70% seja observação e eliminação drástica dos problemas que vão sendo percebidos, e os 30% restantes, aprendizado através de livros, artigos como este e informação de outros criadores.



>Luzes



Recomendo que deixem no criadouro quantas luzes acesas forem necessárias, de maneira que forme uma penumbra, a fim de que as fêmeas não se assustem durante a noite. Utilizo no meu criadouro lâmpadas de 220 volts, 40 watts, pois além de gastarem pouca energia - que é de 110 volts - duram dois a mais anos. Dessa forma, os pássaros podem ver a presença de algum inseto e até mesmo lagartixas que visitam as gaiolas a procura de alimento, sem contar barulhos externos, luzes que se acendem na casa, etc.



ALIMENTAÇÃO



>Observações iniciais



A alimentação e a higiene talvez sejam os fatores de maior importância no sucesso da criação e da manutenção de curiós saudáveis em cativeiro. É bastante variável de criador ou de "curiozeiro" para criador, dependendo dos hábitos alimentares do plantel. Este é um assunto que tem me preocupado ultimamente, principalmente levando-se em conta tão somente o tempo de vida dos atuais curiós criados em gaiola, bastante abaixo dos nativos. Atribuo esta constatação em grande parte à alimentação que é administrada, não se esquecendo também da falta de exercícios aos quais são submetidos. Essa pesquisa e observação do meu plantel, superior a 200 fêmeas e aproximadamente 15 machos criadores, além de dois pretos de canto, tem me levado a abandonar uma série de alimentos e à introdução de outros já balanceados cientificamente, facilitando o trabalho e a manutenção da higiene do criadouro e das gaiolas, alidado à utilização de gaiolões e voadeiras, principalmente na época da muda.


Normalmente são utilizados na alimentação diversas sementes, verduras e legumes, tais como: alpiste, painço (este último dos mais variados tipos - branco, verde, amarelo, etc.), arroz em casca, perila, senha, cânhamo, milho verde, ovo cozido, larvas, cupins, almeirão, chicória, talo de couve, pepino, quirela de milho, areia grossa, pó de ostra, osso de ciba, ração caseira ou industrializada, broa e uma interminável lista de outros alimentos. Como disse, depende do criador o fornecimento de alguns desses alimentos. A larva, o cupim, o ovo cozido, o milho verde e o sorgo são utlizados geralmente na época de criação. Tenho ouvido com certa constância, alguns curiozerios, principalmente os mais antigos, afirmarem que seus primeiros avinhados eram alimentados somente com alpiste, arroz em casca e água e viviam 20, 30 anos. É correta essa afirmação, mas não podemos esquecer que lidávamos (ou lidavam) com curiós mateiros ou pássaros filhos de mateiros que possuíam organismo mais resistente, furto da alimentação nativa, variada e rica em proteinas, que eram absorvidads de acordo com as suas necessidades.


Isso não acontece em cativeiro, onde comem o que seu dono oferece sem conhecer, muitas vezes, as suas necessidades alimentares. Portanto, aprisionados como estão, cabe a nós encontrarmos esse equilíbrio que lhes poderá proporcionar vida longa e resistência às doenças. Esclareço que no decorrer desses 25 a 30 anos criando, estudando e observando a saúde do curió em cativeiro, utilizei, em diferentes épocas, todos os alimentos acima citados, complementando-os, inclusive, com vitaminas dos mais variados tipos, bem como medicamentos, quer preventivos como curativos.


Hoje só utilizo esses complementos vitaminados ou remédios preventivos ou curativos, químicos, muito excepcionalmente. Não podermos esquecer que é imperioso o uso desses produtos, mas somente quando diagnosticado por veterinário competente ou criador com larga experiência e usados de acordo com a prescrição ou indicação da bula. Nada de gotinha a mais, prestando muita atenção no tamanho do conta-gotas, pois o excesso de alguns poderá esterilizar boa parte do plantel, ou mesmo prejudicar a fertilidade de machos e fêmeas.


Talvez o aspecto alimentação e canto do super clássico Ana Dias, fidelidade da letra do canto, melodia e ritmo, tenham sido os assuntos que mais tempo tenho dedicado.


Contudo, pelo que se tem observado, todos os criadores devem estar com as mesmas preocupaçóes, pois, embora para alguns impere somente o aspecto comercial, o que será inegavelmente muito saudável para o desenvolvimento dos nossos pássaros, para a grande maioria, como é o meu caso, a preservação e o hobby são os principais objetivos.



>Racionalização



Assim sendo, a racionalização nos alimentos tem sido buscada, fazendo com que eu utilize, para os pássaros adultos, exclusivamente uma mistura de sementes. Uso as misturas da Cede ou da Quiko para silvestres, por serem bastante completas em variedades. No início, quando ainda era uma novidade no mercado, procurei ajuda de um laboratório veterinário para o exame do teor de umidade, possível presença de fungo, etc., sendo totalmente aprovada. Lembro aos amigos iniciantes que um dos maiores erros que cometemos é o de lavar as sementes. Por mais que tentemos secá-las, restará a incerteza do teor de umidade permanecido, o que poderá ser fruto, no futuro, de produção de toxinas altamente prejudiciais às aves.


Essa sementeira aliada ao uso de uma ração balanceada e específica para o curió, adicionando-se um mineral de qualidade, trouxe-me a convicção de estar proporcionando à minha criação uma alimentação perfeitamente equilibrada. Não basta ser uma ração de boa qualidade, como a Cede para curiós e bicudos, usada por mim, sendo necessário, também, que ela seja bem armazenada, tanto pelo distribuidor como pelos varejistas e curiozeiros, em locais secos, claros, salvos de insetos, animais predadores e aves silvestres, inclusive, rigorosamente dentro dos períodos de validade. O grande problema no uso de uma ração industrializada e balanceada é acostumar o pássaro a comê-la.


Dependerá substancialmente da criatividade do criador, que deverá se utilizar de todos os artifícios possíveis. Usando, a princípio, em pequenas quantidades, misturada a todos os alimentos, notadamente aqueles mais apreciados pelos seus curiós. Inicia-se fornecendo uma colher de café em um ovo cozido (clara e grema). Mistura-se ao mineral ou ao painço, alimento muito apreciado pela facilidade de trituração.


Depois de alguns dias, aumenta-se a quantidade. Duas colheres, por exemplo, e assim progressiva e sucessivamente. Creio que o ideal é administrá-la na proporção de uma colher de sopa, bem cheia, para um ovo cozido. Deve-se, também, fornece-la seca, em porta-vitaminas ou dedais. Como podem observar, aos pássaros adultos somente é fornecida a alimentação acima, acrescida de água no bebedouro e banheira que deixo na gaiola, no máximo, por 30 minutos.



>Período da Criação



Na ocasião da criação, além dos alimentos acima, sementes, ração seca e mineral, mas com base nos mesmo alimentos, forneço dois outros: a ração Cede, mas agora umedecida com ovo cozido. Uma colher de sopa bem cheia para cada ovo cozido (clara e gema), este passado na peneira ou espremedor de batatas. O uso de ovo tem várias razões para ser recomendado: aumenta a quantidade de proteínas, são muito bem aceitos pelas fêmeas e têm a propriedade de umedecer a ração. Talvez fosse possível administrar essa ração simplesmente umedecida com água, porém náo cheguei a esse estágio por acomodação ou porque esta outra forma esteja dando resultado. Outro alimento é a mistura de sementes para silvestres, aquela fornecida normalmente nos cochos, que umedeço com água, durante 30 a 60 minutos aproximadamente. Na água que será umedecida as sementes, o criador, se o desejar ou for de seu hábito, poderá adicionar algumas gotas de vitaminas (aminoácidos, ferro, vitamina E, etc.). O único inconveniente deste procedimento é que alguns complementos alimentares possuem açúcar ou mel, o que poderá atrair formigas. Esses alimentos umedecidos, tanto a ração como as sementes, são de uma utilidade incomparável, pois são fáceis de triturar, facilitando o trabalho das fêmeas, propiriciando mais tempo para alimentarem a si e aos seus filhotes, além de voltarem ao ninho com maior brevidade.


Quero, finalizando este item, lembrar mais uma vez aos caros amigos criadores, principalmente aqueles que se inciam, a necessidade de fornecer essa alimentação umedecida em perquenas quantidades, várias vezes ao dia, retirando as sobras ao entardecer. Elas deverão ser preparadas diariamente. Essas duas últimas providências farão com que os pássaros não se alimentem de sobras que provavelmente estejam azedas, portanto formando toxinas altamente prejudiciais à saúde das aves, como salientei anteriormente.



>Cuidados preventivos



Além desses alimentos que considero altamente equilibrado às necessidades dos curiós tenho por hábito tomar alguns cuidados preventivos. Não coloco pássaro em uma gaiola sem que ela esteja lavada e desinfetada. Anualmente procedo a uma lavagem e desinfecção do criadouro e gaiolões, inclusive, evernizando-os. Os utensílios como porta-vitaminas, banheiras, bebedouros, etc. são desinfetados quinzenalmente. Quanto aos pássaros, faço desvermifugação duas vezes por ano, antes e depois do período da criação. Providencio, também, uma vez por ano exame de fezes, tanto específico em alguns curiós, com de plantel. Dependendo do resultado fornecido pelo laboratório veterinário, procedo o tratamento do grupo específico.



>Fornecimento de vitaminas



Quanto ao fornecimento de vitaminas, tenho evitado administrá-las a não ser que perceba a carência de algum complemento, o que pode ser feito pela observação do criador, com bastante experiência, ou de médico veterinário.


Apesar dessa aparente restrição aos complementos vitaminados, tendo em vista o equilíbrio da alimentação acima referida, menciono duas que invariavelmente se fazem necessárias: o ferro, por ocasião da muda de penas e a vitamina E, no mês que antecede o início da criação.



Continua na próxima edição ...



Fonte: Revista Pássaros. Ano 10 - nº 49. pp. 09-11

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE II



Edgard Osmar de Carvalho



Criação



Há duas ou três décadas, a criação em cativeiro dessa ave foi um desafio à nossa paciência e capacidade de observação, pois as tentativas iniciais, como não poderiam deixar de ser, foram com pássaros nativos, que embora, já mansos, alguns, inclusive, capturados ainda filhotes, não deixavam de ter a índole e hábitos adquiridos nos ambientes naturais onde foram criados. Adaptá-los à criação em cativeiro foi realmente um ato de amor e dedicação à sua preservação. Registro aqui as minhas homenagens a esses pioneiros amadores.


Os primeiros criadores, na sua maioria, fizeram suas tentativas em viveiros, outros em gaiolões com boas dimensões, sempre com poucas fêmeas, tendo em vista a índole nativa de valentia e domínio territorial da ave. Tudo era pura intuição e observação, logicamente com os conhecimentos de seus hábitos na natureza. Vencidas as primeiras dificuldades, começaram a aparecer os primeiros filhotes. Novos desafios: agora, a alimentação. O que fornecer aos recém-nascidos ? As andanças pelas várzeas começaram em busca de cupins, aleluia, gafanhotos, larvas, etc. E novos conhecimentos foram adquiridos.


Criados os filhotes separados dos pais, vieram as tentativas e ensinar o canto dos grandes mestres, tais como: Ana Dias, Patrício e Xodó, só para citar alguns. Eram os cantos clássicos da época, mais conhecidos, gravados em disco de vinil e fitas cassetes; sem muitos recursos tecnológicos. Era a época das invenções, pois a maioria dos toca-discos ou "tapes" não eram automáticos ou auto-reversos.


>Novos desafios


Tudo isso foi superado e os primeiros filhotes apareciam cantando algo muito parecido aos curiós anteriores, alguns, inclusive superando-os.


É bom lembrar que nessa época os discos eram gravados com as imperfeições dos curiós, sem acertos das cantadas, sem emendas, etc.; porém guardam fidelidade dos cantos do passado, suas cantadas incompletas, cortadas, fofocas, cantadas altasa, outras baixas, outras ainda, quase um sussurro, aberturas, etc. Mas, pelo menos conservavam a qualidade das notas, já que os recursos técnicos de mixagem, acertos e alterações da notas, eram em alguns casos, impossível. A reprodução era quase que fiel, muitas ao vivo. Eu, particularmente, venho há uns três ou quatro anos persquisando aquelas notas, logicamente com os recursos modernos, principalmente o computador com programas desenvolvidos, especificamente para essas observações. Fui constatando as alterações que o canto sofreu, quer em melodia, andamento, volume, frequência e principalmente na letra do canto Ana Dias, super clássico.


Retornando ao assunto inicialmente proposto Criação do Curió, aquelas dificuldades foram superadas e hoje já podemos criar essa ave com grande facilidade, desde que obedecidos certos cuidados básicos. Ressalto, contudo, que muitos desses chamados cuidados básicos, podem levar à conclusão de muitos que são ultrapassados, mas continuam a ser praticados pelos criadores, talvez sem perceber.



>Criadouro



Uma das primeiras preocupações para iniciar uma criação é a definição do local em que se pretende criar. O espaço físico dependerá, é lógico, do porte da criação que se pretende formar. O recomendado, para os iniciantes, é a aquisição de poucas fêmeas: uma, duas ou, no máximo, três. Assim, o espaço poderá ser reduzido até que os conhecimentos sejam adquiridos. Não podemos esquecer que esse espaço deverá ser específico para a criação, que proporcione fácil manuseio das gaiolas, quer das fêmeas ou dos machos, com facilidade de manutenção da higiene, sem trãnsito de pessoas ou animais próximoss às gaiolas, sem acesso de pássaros nativos soltos na natureza, como pardais, rolinhas, pombos, etc. (grandes transmissores de doenças). Com boa ventilação e claridade, para se evitar o mofo e o fungo.



> Gaiolas e Ninhos



Isso definido, devemos adquirir as gaiolas, podendo optar por gaiolas de madeira e arame (gaiolões), ou somente de arame. Estas, hoje, são as preferidas, pois, além de menores, já bem aceitas pelas novas gerações de fêmeas, são de mais fácil higiene, podendo ser pintadas anualmente, ocupando, inclusive, menos espaço. Quanto ao ninho, podem ser de corda, sisal, bucha, etc. Tenho, há alguns anos, preferido os ninhos de buchas, bem ralos, do tamanho de uma laranja pêra, que são colocados em supertes de arame e facilmente removíveis e substituídos a cada ninhada. Este ninho de bucha além de higênico, já que é ralo permitindo que a sujeira seca, em forma de pó, caia, tem a grande qualidade de prender as raízes de capim que são fornecidas às fêmeas na época da criação. Esse fato faz com que, principalmente, os filhotes fêmeas se afeiçoem e moldem-no de acordo com a sua predileção, evitando que as raízes caiam como acontece com o de corda e mesmo o de sisal. Esse simples detalhe eliminou praticamente a perda de fêmeas filhotes, que botavam fora do ninho ou não deitavam (chocavam). Esclareço que o ninho deve ser colocado sempre na frente da gaiola, no canto superior e aonde se apresenta com maior claridade. Costumo, também, proteger o ninho com uma tela verde, que pode ser substituída por uma bucha prensada. Assim, a fêmea se sentirá mais protegida.



> Plantel



Estabelecidas, definidas e concretizadas essas prioridades, vem a compra do plantel. Nesse particular, recomendo que se descarte a compra de fêmeas "criadeiras" que deixarei de comentar as razões de forma direta. Citarei, a título de observação aos ovos criadores, que uma fêmea para ser considerada boa criadeira tem que ter características próprias, que um criador que se preze, a não ser por alto valor; dispensará, ou seja: ser uma fêmea relativamente nova, que bote regularmente no ninho e não fora dele, que choque os ovos, boa tratadeira, que deixe o macho galar, pois existem fêmeas que não aceitam gala, embora botem e choquem os de outras.


Ser de boa procedência genética que produza filhotes com facilidade de aprenderem o canto. Uma fêmea com essas características, somadas à mansidão e docilidade, e quase que inegociável. Nesta situação, como disse, recomendo a compra de filhotes fêmeas, se possível de ninhadas, de criador conhecido e sério, de plantel de boa formação genética, que lhe repasse com segurança quem são os pais, avós e até, se possível, os bisavós dos filhotes adquiridos. Outro fator importante é a adaptação desses pássaros ao novo ambiente, local da criação, pessoas da casa, movimento de animais, veículos, gestos e manuseio do novo criador, suas roupas, seus óculos, etc. São inúmeros os fatores. Só como ilustração, crio curió há mais de 25 anos, sendo o primeiro a criar com o Soberano (velho), Porco, Realejo, Repeteco, Camaro, Americano, Itararé (Tilim), Itororó (Pelé), Jundiaí, Xogum, (estes dois últimos de antiga propriedade do Sr. Orfeu), sendo que presentemente foram incorporados na formação genética do plantel outros, como Miura, Jornaleiro, Resgate, Colonial, Vaidoso, dois Soberanos (filhos), etc., estes pela linha alta, pela baixa, a das fêmeas, foram somados à formação do plantel, próximo de duas dezenas de outros excelentes curiós, de outras criadores do Estado, possuindo fêmeas na criação com mais de 18 anos , manuseando, manuseando, tratando e transitando constantemente pelo criadouro.


Mesmo assim não posso entrar na minha criação com óculos, pois não o uso permanentemente, ou com uma camisa de outra cor que não seja a branca, pois elas assustam É também certo que se acostumariam com certa facilidade de passasse a usá-las com frequência. Portanto, adquirindo filhotes fêmeas, essa adaptação será mais fácil, uma vez que essas, como nove meses aproximadamente, já podem ser colocadas para criar. É comum uma fêmea adulta demorar de um a dois anos para começar a produzir seus filhotes no novo ambiente e acostumar-se com as novas companheiras da criação (seus pialados). Essas são as razões fundamentais para definir-se a preferência.



Continua na próxima edição !



Fonte: Revista Pássaros - Ano 10 - nº 49





terça-feira, 15 de junho de 2010

O CURIÓ - PARTE I



Edgard Osmar de Carvalho



Convidado pelo amigo Paul para escrever sobre o curió, sua origem, natureza, criação e canto, resolvi fazê-lo em três etapas, da forma mais simples possível, mais dirigido a iniciantes aficionados desse pássaro e que não tiveram a oportunidade de conviver, em estado nativo, com essa ave de canto maravilhoso. Dividi as observações em três partes:


1. Origem e Natureza

2. Criação e Alimentação

3. Canto e Aprendizado dos filhotes



1 - Origem e Natureza:


Curió, nome de origem indígena que significa "amigo do homem", também conhecido por "avinhado", é um pássaro silvestre da fauna brasileira, da família dos fringílidas, denominado cientificamente de Oryzoborus angolensis. É uma ave de bico grosso, como todos os fringílidas, de porte pequeno, cor preta, com o peito de tonalidade vinho, possuindo uma pinta branca em cada asa, principalmente quando adulto e macho. Quando filhote, assim como as fêmeas adultas, são de cor marrom clara. Sua cor definitiva somente é adquirida entre um e dois anos de idade.


É um pássaro de região tropical que era encontrado em quase todos os estados brasileiros, próximo a rios e várzeas, sendo essencialmente territorial. Um casal ocupa um espaço de alguns hectares, expulsando os invasores da mesma espécie, quer pela firmeza e insistência do seu canto, ou mesmo, se necessário, fisicamente. O mesmo acontece com seus filhotes, expulsa-os quando se tornam independentes alimentarmente e começam a corrichar e emitir as primeiras notas do seu canto.


Seu quase desaparecimento, em estado silvestre, deve-se em grande parte aos desmatamentos, bem como pela aplicação de inseticidas e defensivos agrícolas nas lavouras.


Mas também não se deve esquecer da caça predatória, com o aprisionamento de casais, principalmente na época da criação, quando era mais fácil caçá-los, tendo em vista a sua valentia na defesa do seu "habitat".


Hoje, dificilmente são encontrados, principalmente no estado de São Paulo. Na região Norte do país e em Mato Grosso, encontram-se, com alguma dificuldade, casais originariamente nativos que conservam as suas características e canto.


Salientamos aqui que o canto do curió depende da região de sua origem. Muitas vezes, numa mesma região, encontramos cantos diferentes, não na sua essência, mas com algumas notas alteradas. Assim temos o Paracambi, o Santa Catarin, o Jurubatuba hoje já extinto, o Praia Grande - da região de Santos, etc. O canto Praia Clássico, o mais apreciado no estado de São Paulo, é uma obra do curió "Ana Dias", que aprendendo o canto Praia Grande, foi incorporando, no decorrer dos anos, notas de outras regiões do litoral paulista, como Pedro Taques, Vila Atlântica, Mongaguá, Itanhaém, Ana Dias, etc., locais esses, entre outros, citados pelo amigo Valter Moretti, um dos pioneiros da preservação do canto Praia Clássico, na capa de seu disco "Ana Dias, homenagem aos 30 anos de um Mestre".


A preservação, contudo, deve-se a criadores amadores apaixonados que já na década de 60 iniciaram as primeiras tentativas de criá-los em cativeiro. Foi um trabalho árduo, mas gratificante que dependeu de muita paciência, dedicação, observação e amor à naureza. Em toda parte do estado, sabemos de pessoas que criaram esse pássaro. As dificuldades da época eram grandes, pois a comunicação entre os "curiozeiros" era rara e difícil. Mesmo assim o sucesso foi total. O curó não corre mais o risco de extinção. O nosso grande trabalho hoje é a preservação dos cantos, quer os originais regionais, muitos já perdidos, como os formados por pássaros extraordinários, que cito, como exemplo, o Ana Dias.



Fonte: Revista Pássaros - Ano 10 - Nº 40, p. 07


Continua na próxima edição !

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ENTREVISTA: CRIATÓRIO REFÚGIO DOS CLÁSSICOS


Boa noite, antes tarde do que nunca, esperada por muitos, trago até vc meu amigo leitor, essa importante e detalhada entrevista com o nosso Amigo e criador Carlos Tadeu de Moraes, do Criatório Refúgio dos Clássicos em Pirassununga/SP, cidade situada às margens da Rodovia Anhanguera e que já foi palco de importantes etapas do Campeonato Brasileiro de Canto de Curió Praia Grande Clássico.


Tadeu, como é conhecido, formando-se em Medicina Veterinária ao término deste mês, nesta entrevista demonstra o quanto é detalhista e, com os seus resultados, demonstra o quanto essa característica é importante no trabalho de criação e encarte do canto praia grande clássico, sendo considerado pelos mais chegados, o Mago dos CDs, apesar de sua jovialidade, uma vez que a sua percepção, aliada a sua sensibilidade e conhecimento técnico, permitem esse jovem criador editar CDs que realmente fazem a diferença. Confiram abaixo a entrevista !


CC&T - Quando começou a criar ? Iniciou logo com curiós ou não ? É criador amadorista ou comercial ? Há quanto tempo ?

CT - Desde a minha infância, a convivência com aves canoras já faz parte do meu cotidiano, pois meu pai e meu avô sempre mexeram com aves e acho que essa paixão veio de berço, pois eu acordava quase todos os dias para ajudar meu pai no trato de suas quase 50 gaiolas, além de acompanhar meu avô nos rolinhos e visita a passarinheiros e isso era um prazer enorme pra mim. Primeiramente comecei com os canários da terra de canto metralha e no ano de 2006 mudei para os curiós por incentivo de meu pai, iniciando minhas primeiras aquisições no ano de 2007. Sou criador amadorista desde 2006, mas no seara dos curiós o ponta pé inicial foi no ano de 2007/08 onde adquiri meus primeiros filhotes.



CC&T - Descreva para nós como é a estrutura do seu criadouro/criatório, no que diz respeito a compartimentos da criação, ou seja às suas instalações propriamente ditas ?

CT - Podemos dizer que o criatório apresenta uma estrutura bem simples, apresentando 4 residências para dividir e separar as aves conforme a necessidade e época do ano, sendo esses locais compostos por cabines acústicas as quais são utilizadas somente conforme a necessidade do momento. O criatório fica aos fundos da residência de meus pais em Pirassununga/S.P o qual comporta as matrizes em cada lugar próprio.


Os galadores ficam na casa do meu avô o qual cuida e trata por todo ano e retornam para o criatório somente na época de criação.


Também conto com a residência de minha sogra na qual fica o meu mestre, além de outra em Poços de Caldas /MG onde moro, a qual é composta por caixas acústicas e um ambiente especifico para o encarte e continuidade do trabalho com os pardos apartados que saem do criatório + ou - com 35 dias e irão permanecer em bando isolados por capa em um mesmo ambiente até a fase de marcação de notas. As caixas ficam vazias somente sendo utilizadas caso for necessário ou na obrigação de ter que travar algum pardo que esteja querendo sair antes da hora ou com defeitos.



CC&T - O seu plantel é formado por quantas fêmeas e machos ?

CT - Atualmente com 5 galadores e 20 matrizes.



CC&T - Geneticamente falando, qual a base da raça com que trabalha ?

CT - Meu plantel não é selecionado em relação a apenas uma base genética, pois sempre busquei adquirir filhas e filhos de curiós repetidores e que já tenham apresentado resultados no que se refere a canto Praia Grande Clássico independente da genética da ave. Venho trabalhando com complementariedade entre as raças onde cada uma tem seu ponto forte e dessa forma, podemos chegar no ideal . Mas, contamos com as genéticas “clássicas” de resultados que apresentam a maioria das árvores genealógicas dos curiós de ponta e de torneios, que são: SOBERANO, MELODIA, MATUTO, XODÓ, CANARINHO, ENCRENCA(BUGRE) , PRATA, PRECIOSO além de outras que poderá ser visto no site(
http://refugiodosclassicos.weebly.com ), sempre buscando selecionar resultados e não simplesmente árvore genealógica, para aí sim futuramente poder trabalhar sobre esses resultados e fechar com cruzamentos consangüíneos para formar uma nova família e quem sabe uma nova raça para marcar como essas já conhecidas e admiradas por todos nós.



CC&T - A sua criação é voltada exclusivamente ou não para curiós Praia Grande Clássico ?

CT - Exclusivamente o plantel e a criação são selecionados e manejados visando o encartamento do canto Praia Grande Clássico.



CC& T - Conte para nós como se dá o seu trabalho de vetorização de canto, englobando a questão de CD, ambiente, falante e o manejo propriamente dito ?

CT - Essa parte considero a mais importante de um criatório, pois de nada adianta ter-se uma genética formidável se esta carecer de ambiente , aparelhagem de som juntamente a alto falantes de qualidade, CD com um arranjo didático bem montado e sem defeitos e falhas de gravação aliado a um selo que encaixe conforme a genética com que se trabalha.


É por isso que considero essa formula básica para quem quer apresentar sucesso em sua criação que é FENÓTIPO = GENÓTIPO + MEIO AMBIENTE. Entende-se por fenótipo, as características observáveis, que no caso de nosso criatório, o canto é a característica fenotípica que mais buscamos avaliar (voz, melodia , firmeza de notas) isso tudo, associado a apresentação, pois visamos a produção pensando nos torneios de canto e de nada adianta ser um craque se faltar apresentação e disposição canora para cantar nos 5 minutos de estaca; o genótipo é a composição genética , portanto a interação de uma bela genética com um meio ambiente favorável é o que vai nos garantir um sucesso no encartamento de nossas aves e se faltar apenas um dos lados ficará muito difícil os resultados positivos.

Nosso criatório apresenta duas fases em manejo diferenciado para vetorização de canto conforme a época de criação.


No inicio da temporada de criação do meu plantel que se inicia em dezembro, meus filhotes são apartados no dia de seu anilhamento e são isolados nas cabines acústicas e tratados manualmente até não aceitarem mais o palito, mais ou menos com seus 35 dias de vida.


A segunda fase é na ultima leva de filhotes onde no mês de janeiro galamos as fêmeas até o momento em que estas apresentarem uma ninhada de até uma idade de 7 dias de vida. Sendo assim, os galadores permanecem no ambiente galando as matrizes que se aprontam até esse momento.


Após essa fase todos os galadores voltam para a casa de meu avô e irão entrar IN OFF para se prepararem para a muda de penas, assim, deixando no criatório somente as matrizes galadas , chocando ou com filhotes.


Portanto, as matrizes que não aprontarem nesse meio tempo são retiradas do criatório e colocadas juntas para fazerem a muda de penas evitando assim a presença de matrizes solteiras cantando no interior do criatório.

O Cd que utilizamos é um Prata extraído do vinil de 1985, 30 anos Moretti, em andamento levemente mais acelerado e de arranjo diversificado conforme a idade e fase dos filhotes.


Nas caixas dos filhotes tratados manualmente e no berçário (criatório), que é a fase de vetorização, eu mantenho esse arranjo o qual se estende até os 60 dias de vida dos filhotes, sendo este composto por cantadas de 3 3 3 3 6 samáritas, pialados de fogo, chamados frios e uma rasgada em R.

Após os 60 dias de vida do filhote, o arranjo é somente com pialados de fogo e é retirada uma cantada de 3 samáritas e o rasgado , ficando em 3 3 3 6 samáritas até sua abertura de canto, e se for necessário após a abertura adicionamos mais uma cantada de 9 samáritas , ficando em 3 3 3 6 9 .

Mesmo apresentando um curió mestre de canto que é o Sinistro, sendo este um curió extremamente firme de notas e encartado no cd que utilizamos para os filhotes, não o utilizamos em hipótese alguma até a muda de ninho dos mesmos. Nessa fase somente é utilizado o CD de instrução.

O mestre é somente utilizado após a abertura canora dos filhotes com intuito de fortalecer a cantoria ou correção de alguma nota ou detalhe no canto que algum filhote venha a apresentar.

Os alto falantes que eu utilizo são uns Fullrange de ferrite e cone de papelão utilizados em televisão , são de 5 polegadas, 8 ohms e 10 wats.

Os mesmos são colocados nas caixas; e no ambiente junto a eles também é utilizado um Super Tweeter Profissional de marca comercial. Os aparelhos de som que utilizo são em WAV por chip de cartão com entrada de rádio e sempre mantenho um rádio FM ligado no intervalo em todos os ambientes do criatório.



CC&T - O desmame vc costuma realizar com que idade do filhote ?

CT - Mais ou menos 35 dias de vida.



CC&T - Quando normalmente vc começa e para de criar a cada temporada?

CT - Por motivos maiores(faculdade) e falta de tempo disponível, crio somente no período das férias que é dezembro e janeiro, o que acaba ficando apertado e tirando poucos filhotes por temporada ,mas que além do mais, é uma época excelente para o nascimento dos filhotes principalmente em se pensar nos machinhos que terão idade muito boa para os torneios do ano subseqüente, que é esse o nosso maior objetivo, sobrepondo a qualidade sobre a quantidade e produção de pardos visando os torneios e mantenedores que querem para esse propósito.


CC&T - Nos diga algumas de suas principais fêmeas e galadores, bem como se possível as suas ascendências ?

CT - Por ser essa a segunda temporada propriamente dita, vou citar as 3 fêmeas que me deram resultado e as únicas que criaram na temporada passada que são a Brenda do Refúgio, que nos forneceu um pardo que se saiu muito bem despontando nos torneios da Febraps durante a temporada de 2009/2010, se classificando para o torneios do campeões o qual infelizmente seu proprietário (Edward/ Jáu- SP) não pôde participar do mesmo, que é o Pardo Boa Idéia do Refúgio. Segue o vídeo dele ainda com seus 7 meses iniciando na cantoria.
http://www.youtube.com/watch?v=50f8Uy_-PyY

Brenda é criação dos amigos Márcio Magina e Camissoti de Cruzeiro/S.P sendo filha do Matutino (soberano com matuto) passado na fêmea Carmosina (miramar X madona36(irmã do zulu); podemos citar também a fêmea Seresta Neta do Refúgio, sendo essa criação do nosso amigo Dárcio Masteralli de Marilía/ S.P ,filha do Pilatos2 X Serxan. Seresta é irmã de ninho do curió Biloca118 ; segue o vídeo do seu irmão de ninho
http://www.youtube.com/watch?v=I03iM-MBz_E e mãe do pardo criação nossa o 020 do refúgio , segue vídeo do 020 http://www.youtube.com/watch?v=8R0kYgE4pB0.

Podemos citar também a matriz Triska do Refúgio, filha do Trianom (prata X paulista) passado na Skamary(Skank(Canarinho Velho X Chiva) X Marieta (Maravilha X Violeta) cria do Carlos da Mata de Assis/S.P, fêmea a qual nos deu dois filhotes irmãos de ninho sendo o 022 hoje galador no criatório serra da mata atlântica em Santos/SP, curió este de repetição e voz.


Seu irmão de ninho, o 021 do Refúgio, hoje é de propriedade do nossos amigos Vinicius e José Alberto Favaro grandes parceiros do criatório, segue vídeo do 021 com 9 meses
http://www.youtube.com/watch?v=4CDCm4IZPdQ .

Galadores:


Podemos citar o Duvo do Refúgio curió de 10 anos, criação do Osmar keller de Santa Barbara do Oeste/S.P, filho do famoso Tieté (xodó velho X mariazinha(filha do xodó velho), sendo fechado no xodó velho na linha paterna e filho de uma irmã da Safira velha(mãe do Dominique) a Água marinha, sendo o Duvo o pai do pardo 020 (vídeo citado acima). Podemos citar também o Eldorado do Refúgio, curió esse que iniciou nessa temporada na criação, fechado em cruzamento consangüíneo no famoso bugre pela linha alta e baixa sendo neto do Encrenca Velho e filho do falecido repetidor Junior , segue vídeo de seu pai
http://www.youtube.com/watch?v=TFyiOQdVOZk

Temporada que vêm iremos estrear novos galadores como um irmão paterno da fêmea Triska e o irmão de NINHO de um dos melhores pardos que já pudemos presenciar que é o curió repetidor Chave de Ouro
http://www.youtube.com/watch?v=2pGxd8H1Hdo&feature=related e ou http://www.youtube.com/watch?v=2glJ_seuoCc&NR=1 o qual é o nosso galador Estrela de Prata do Refúgio, curió esse que vem a ser neto do carinhoso do Tochio/Tupã/S.P, pelo lado paterno e neto do Matutinho do Joca/Rio claro/S.P, pelo lado materno.


CC&T - Tem algum curió da sua criação que já tenha sido revelação ? Em caso positivo cite para nós o seu nome, genética e eventual conquista ?

CT - Essa temporada criamos bons pardos mas para tornarem-se revelação, devem e têm que ser apresentados em torneios, pois é ali que avaliamos realmente o potencial da ave.

Portanto, cito o pardo Boa Idéia do Refúgio o qual se saiu muito bem nos torneios essa temporada e vem a ser filho do galador do nosso amigo Marcus de Barretos, o Boiadeiro(67 X Toninha) passado na nossa fêmea Brenda do Refúgio o qual já comentamos sobre sua ascendência logo acima.


CC&T - Como criador regularmente cadastrado no IBAMA, seja amadorista ou comercial, mas preservacionista por excelência, vc tem enfrentado algum tipo de problema no relacionamento com a Autarquia ?

CT - Por trabalharmos com observância rigorosa à lei, nunca tivemos problemas com o IBAMA, embora eles tenham deixado a desejar em alguns pontos essenciais para um bom relacionamento entre o órgão e nós criadores, porém, não temos nada a reclamar.


CC&T - O que pode sugerir para aqueles que estão começando ou pretendendo começar a criar curiós ?

CT - Primeiramente gostaria de dizer que para lidar com curiós de canto clássico é necessário ter muita paciência, dedicação e extremo feeling para conhecermos nossas aves e sabermos de suas qualidades, além de principalmente reconhecermos os seus defeitos. Para isso, é necessário um estudo do “Beabá” do canto clássico a fim de aprendermos a semântica básica, após esse conhecimento e com o tempo e troca de informações irmos adquirindo experiências para aprimorarmos, para ai sim começarmos a adquirir nossos filhotes.

É primordial conhecermos bem o canto clássico, e buscarmos fazer amizades boas, pesquisando criadores honestos e que fazem um trabalho legal para adquirirmos nossos futuros campeões. Para quem gostaria de começar uma criação, eu indicaria adquirir filhotas de criadores que estão apresentando resultados e que seja de sua confiança, e não adianta quantidade e sim qualidade, pois genética todo mundo têm, o que não têm são os resultados.


Basicamente é fazer amizades com pessoas honestas e sérias, esse é o caminho pois um dos fatores primordiais do hobby são os amigos que concretizamos no dia a dia.



CC&T - Quais são as suas últimas palavras que gostaria de dizer para os nossos leitores ?

CT - Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter colocado os curiós em minha vida, pois através deles, fiz excelentes amigos que levarei por toda vida; a todos que com sua paciência estão lendo essa entrevista e principalmente ao nosso amigo e mestre Antonio Pecêgo, pessoa que eu admiro muito pela dedicação, amor, extremo conhecimento e feeling no que se refere a Torneios de canto e preparação de aves para tal. Seus resultados falam por si só, por isso é considerado por muitos o Mago das Estacas, e claro , por nos dar essa oportunidade de falarmos um pouquinho sobre nosso criatório nesse site que já é uma referência mundial.


Gostaria também de aproveitar a oportunidade de dar meus sentimentos de gratidão a pessoas que me ajudaram e ajudam muito, bem como foram responsáveis para que eu concretizasse esse pequeno sonho que é meu criatório.


Me considero uma pessoa de sorte por ter amigos verdadeiros nesse ramo, mas em especial cito o Cleuber , Marcus Thomazzati , Luis Antônio/ Pirassununga/S.P ,Serginho Minami, Adalberto Gouveia(Badal), irmãos Fernando do criadouro Serra da Matta atlântica, Vitor Koike de Ubiratã/Pr , Alexandre- Itajái/SC e o Edward de Jáu/S.P pessoas estas as quais só tenho a agradecer pela união, amizade, por serem grandes parceiros do Refúgio dos Clássicos e por terem me ajudado muito para a realização desse sonho.



Estamos abertos para novas amizades e trocas de experiências.



Obrigado a todos.


Sucesso!

E um Excelente ano de 2010 para todos nós!