sábado, 3 de julho de 2010

O CURIÓ - PARTE FINAL


>Testes das notas principais e de preparação



Seguindo a mesma linha de pesquisa e com o intuito de verificar a semelhança entre os sons e as diferenças entre as sílabas que não são perfeitamente ouvidas, conforme constatei junto às pessoas referidas na última edição (criadores, fazedores de pardos, juízes, etc.), elaborei o seguinte teste, tomando como ponto de partida um canto completo do disco antigo, selo laranja, primeira e segunda parte, portanto um Samaritá. Emendei a este, outras segundas partes, não do mesmo canto, para não cometer o erro de comparar coisas iguais, partindo, é lógico, do 'Quim-Quim', da virada, mesmo havendo variação de volume, como é comum observarmos nessa gravação. Muito bem, montei uma camada com 10 samaritás e o resultado foi o seguinte:


1. Com o canto acima no computador, peguei o primeiro 'Quim-Quim' da virada, coloquei-o no lugar de todos os posteriores. Toquei o canto. Ficou perfeitamente harmonioso. Mesmo no lugar dos que considero 'Tim-Tim';


2. Agora, com o samaritá 'Ui-Ui', copiei o primeiro e colei no lugar dos posteriores. Toquei o canto para ouvir. Perfeita harmonia musical;


3. Fiz o mesmo com o outro 'Quim-Quim...', que não é o da virada, sobre o qual, já disse, estar convicto por ser 'Tim-Tim...', pois é um grupo de três notas. Substitui os posteriores por estas duas notas. O mesmo ocorreu. Harmonia total;


4. Repeti o procedimento com as batidas de praia. Também aqui a harmonia continuou.


5. Pois bem, tudo o que foi descrito nos ítens 1 a 4 comprovou que mesmo as notas de cantos diferentes são idênticas, apesar da variação de volume com que as notas foram cantadas, excluída a variação entre 'Quim-Quim' e 'Tim-Tim', que na prática não traz nenhum prejuízo.


Muito bem, agora peguei o primeiro chamado 'te-té', um dos 10 existentes na primeira e segunda parte, já referidas substituí todos os posteriores. Aí, a surpresa já percebida de forma audível. O canto desarrumou. Não havia harmonia melódica. Quase não parecia o canto do Curió.


Isto provou que não eram 'te-tés' simplórios e simplistas como descrevem e ensinam. São sons diferentes. Isso sem lembrarmos das diferenças nas figuras gráficas, que também comprovam sons diferenciados.



>Quantidade de notas



O canto do curió Ana Dias, naqueles discos antigos, já mencionados, possui 18 notas principais, se considerarmos a primeira batida de praia com duas notas; se considerarmos esse grupo com três, serão 19 notas. As notas de preparação são 10: quatro na entrada de canto na primeira parte e seis na segunda parte, onde aparece o primeiro samaritá. No computador positiva-se, com certeza absoluta, que são três notas de entrada de canto, seguindo-se duas notas de preparação; depois aparecem três notas claras, tanto auditivas como gráficas e a terceira não é 'tói', como se ensina exaustivamente quer em aulas, palestras, fitas cassetes ou fitas de vídeo. Aqui, discordo novamente daquele folhetim, anteriormente referido, e dos ensinamentos ministrados por estudiosos do canto do curió Ana Dias, que colocam como sendo 'tói', dando a impressão, inclusive, uma vez que foi escrita com letra minúscula e referida de forma secundária, como uma nota de pouco realce. Ela não é 'tói'. Não é secundária. Também não é de preparação como alguns a apresentam. É principal. Tem que ser uma das notas formadoras do canto super clássico. Ela é, se ouvida com atenção, tão audível e assemelhada nos discos antigos como o Samaritá. Se não fosse, o Ana Dias não seria super clássico, porque faltaria a alteada.


Esta terceira nota é aquela citada pelo amigo Moretti, na contracapa do disco prata de comemoração aos 30 anos de um mestre, parecida com o Samaritá. É a alteada do Juruba 'Iuí' pronunciada pelos pássaros de forma rápida. Também aparece como 'TIUI'. Não é uma 'notinha'. Ela é tão visível no computador, forte e bem audível como o 'Quim-Quim' ou o próprio samaritá 'uíUI'. Aquele é o grupo de notas criado pelo Ana Dias 'Quim-Quim-IUÍ' ou 'QuimQuim-TIUI'. No meu entendimento, o mais correto é 'Tim-Tim-IUI'. O que vem acontecendo, tenho certeza, é que os curiozeiros, criadores e juízes não a escutam, como não escutam as notas de preparação. No caso destas, de preparação, se não são cantadas pelos curiós, tornam-se perceptíveis pela sua falta, pela juntada das notas principais.


Contudo, aquela, o 'IUI' ou 'TIUI', se não cantada, tem passado despercebida, já que a seguir vem duas notas de preparação, que são simploriamente chamadas de 'te-tés', seguindo-se as batidas de praia. As pessoas têm percebido, agora, alguns pássaros dando o 'tói', aquele ensinado, punindo-os com a desclassificação, corretamente, porque é uma nota estranha ao canto da linhado Ana Dias.


Sempre convivemos com o 'tói' e esta nota tem uma influência significativa no aprendizado dos pardos (filhotes), que em razão de várias circunstâncias, como má qualidade da gravação da fita ou disco, problemas de eco ou acústica, aprendem o 'tói', não entram no canto. Têm dificuldade de virar, de repetir. Eles abortam o canto logo na entrada. A razão é perfeitamente explicável se considerarmos essa quebra de linha melódica. Alguns pardos chegam mesmo a 'gritar'. Além de que o 'tói' é uma nota de 'baixada' musicalmente e não uma alteada no tom usado pelo Ana Dias para desenvolver a sua música, o seu canto.


Outro destaque para contrapor-se à teoria de contagem de dois 'Quim-Quim' em um mesmo canto e, portanto, duas notas iguais, embora o segundo, o da alteada, seja mais um 'Tim-Tim', levando-se em conta a diferença de som e o desenho nos cantos originais, mais antigos, é o fato de que no 'Quim-Quim', da virada, o pássaro não necessita de notas de preparação para cantá-lo, já que vem de uma batida de praia, notas mais baixas e que servem para a sua respiração. Já no conjunto de alteada, tendo em vista a existência do 'Iuí', nota principal também, que se cantada como originalmente, é o ápice da música, o curió precisa de duas notas de preparação. Além disso, após cantar o grupo de notas que compõe a alteada, chegando ao ápice, ele precisa de mais duas de preparação, a fim de baixar o canto, mantendo a tonalidade e preservação a harmonia, entrando na batida de praia. Isso mostra a que altura o pássaro chegou, obrigando-o a usar as notas de preparação para chegar à batida de praia. Caso contrário, não conseguiria manter o tom da música.


Voltando ao tema principal deste tópico, quantidade de notas, devemos lembrar que no passado, na década de 70 e início de 80, falava-se no canto do Ana Dias com 13 notas, que não chegavam nem a ser as principais. A partir da segunda metade de 80, já se ouvia falar em 15 ou 16 notas, que eram algumas das notas principais. Assim, seriam 15 se considerasse duas notas na entrada, ou 16 se fossem três. Mas mesmo assim estariam faltando duas que seriam as alteadas 'Iuí' ou 'Tiuí', da primeira e da segunda parte, o que prova mais uma vez que não eram ouvidas. Posteriormente, perceberam a existência da preparação do samaritá, mais duas. Hoje se fala muito em 26, embora também não esteja correto. O correto são 18 notas (sílabas) principais, considerando duas na primeira batida de praia, ou seja: ti-tu-i, tim-tim-iuí, tué (esta primeira batida também é vista no Ana Dias como tuá, a única inclusive) tué, quim-quim, uí-uí, tim-tim-iuí, tué, tué, tué. Este quantitativo é de um canto completo, incluindo primeira e segunda partes.


As notas de preparação aparecem antes e depois do 'tim-tim-iuí' (ou Tiuí) e antes do samaritá 'uí-uí'. Portanto, são cinco grupos com 10 notas. Somadas, totalizam 28 notas ou sílabas. Esse número poderá aumentar se colocarmos três batidas da primeira parte e quatro ou cinco batidas no fechamento do canto.


Como disse anteriormente, as de preparação não possuem sons iguais. Da mesma forma as suas figuras gráficas que aparecem no computador também são diferentes, o que já confirma aquela afirmativa. Elas são de importância fundamental na harmonia do canto Ana Dias, variando de som e intensidade de acordo com as notas principais que as precede. A preparação de um samaritá é diferente das notas que antecedem a batida de praia.




CONSIDERAÇÕES FINAIS




> Resumo dos pontos principais


1. Entrada de canto: são três notas separadas, perfeitamente visíveis na tela do computador, ou seja, 'Ti-tu-í';


2. Não existe a nota 'tói', como 'Quim-Quim-tói'. A nota ou sílaba correta naqueles discos antigos é 'iuí' ou 'Tiuí', em alguns cantos formando, assim, o grupo 'Tim-Tim-Iuí'. Esta última nota é a alteada do jurubatuba - que se assemelhava à nota samaritá - , como se referiu o amigo Moretti no disco de comemoração aos 30 anos de um mestre;


3. São 28 notas (duas batidas na entrada), sendo 18 principais e 10 de preparação;


4. As notas de preparação não são simplesmente 'te-tés'. Seus sons variam de acordo com as notas para as quais servem de preparação. São elas que dão harmonia ao canto super clássico. Seus sons variam, inclusive, com o timbre da voz e tom do canto do pássaro;


5. O desenho gráfico da nota 'tói', que aparece no canto do Pachá I (Ti-Tói) e do Montreal, no 'O, bê, a, bá', bem como os seus sons, são notoriamente e inquestionavelmente diferentes do 'Iuí' ou 'Tiuí', dos cantos do curió Ana Dias, selos vermelho, laranja e marrom.



> Desencontros



1. Considerava-se como duas as notas de entrada. Há prova incontestável que são três;


2. Ensinava-se, das mais variadas formas e eram aceitas por todos, que era 'Quim-Quim-tói', embora agora esteja sendo criticado, repudiado e desclassificado o pássaro que cante o 'tói' claro e aberto;


3. Ensina-se que as notas de preparação são 'te-tés', quando seus sons e desenhos gráficos são inquestionavelmente diferentes;


4. Juízes que perguntado, diretamente e indiretamente, sobre a alteada do juruba e que não só afirmaram como demonstraram desconhecer esta nota no canto super clássico, apesar de comparecerem nos torneios como julgadores de canto.


Esta matéria não tem a pretensão de mudar o entendimento das pessoas que ensinam, concordam e transferem esses aprendizados a outros curiozeiros. Certamente, são aprendizados realizados através do ouvido, embora envolvam pessoas com capacidade indiscutível de comprovação através de equipamentos modernos e precisos. Esta matéria visa, isto sim, externar de forma elucidativa e de convicção absoluta o aprendizado que já tinha sido adquirido e complementado com esses estudos, bem como alertar aos iniciantes deste prazeroso 'hobby', que é o de criar e ouvir o curió cantar, mas, principalmente, a tentativa de ver esse canto, o super clássico, preservado na sua beleza original, resgatando do esquecimento esta nota maravilhosa que é a alteada de Jurubatuba, que dava mais beleza ao canto, tão reclamada pelos curiozeiros do passado.


Quero aqui registrar os meus agradecimentos a essas dezenas de pessoas que, de forma direta e indireta, contribuíram para as conclusões a que cheguei, esperando finalmente que se nenhum conhecimento trasmiti, sirva para alertar as associações e sociedades de criadores de curiós e, principalmente, a Federação Brasileira, que tem o dever e a obrigação de regulamentar os torneios que se realizam, de adequar, orientar, ensinar, atualizar, pesquisar, estudar e transmitir a seu quadro de juízes, teoricamente, o correto canto super clássico, qualquer que ele seja, a fim de que não haja essas divergências entre os seus membros.


Não pensem, aqueles menos cautelosos, que estou sugerindo que se leve um computador em cada estaca nos torneios, para o julgamento dos curiós. Estou sim, sugerindo, se necessário for, que se use equipamentos como esse ou com o mesmo poder de detalhamento para a orientação de sua equipe, objetivando capacitá-los a saber o que devem procurar ouvir nos torneios, para o julgamento final. Essa certeza de homogeneidade poderá trazer de volta os curiós excepcionais que se conservam nas casas dos seus proprietários, que os usam, como é direito de cada um, somente para seu prazer pessoal. Também não pense que estou criticando os órgãos incumbidos dessa preservação, uma vez que conhecemos a dedicação de seus membros, sempre procurando fazer o melhor para seus associados, bem como que estaria levantando a hipótese de injustiça em julgamento de algum pássaro; ao contrário, creio que sempre atribuíram a melhor nota ao curió que mais exato e harmoniosamente se apresentou, mesmo que tenha havido contestação. O que se deve levar em consideração é a honestidade e o propósito de acertar, sempre presente nos julgamentos.



Edgard Osmar de Carvalho

Criador de Curiós (e-mail: edgardcurio@uol.combr )


Av. Dr. Penteado, 533 - Jardim Nossa Senhora Auxiliadora

Campinas - SP - CEP: 13075-461



FONTE: Revista Pássaros. Ano 10 - nº 49

Um comentário:

  1. Boa tarde! Caro Dr. Pegego tenho um filhote de curió com aproximadamente 6 meses. Ela já terminou a muda de pardo a cerca de dois meses atrás. Este passaro é desde que comprei bastante engrizador, porém quando ele começou a abrir um pouquinho o canto, pude perceber que ele estava fazendo uma nota estranha no final do canto e com rachadas. Então comprei uma caixa acustiva a duas semanas e passei a deixa-lo nela com o CD selo prata. Hoje retirei ele da caixa e pude perceber que tem horas que ele canta certinha, e em outros momentos ele emiti as notas fora de ordem. Faz batidas de praia no inicio e no meio do canto e no final faz uma nota estranha fina uiuiui(algo semelhante)e acompanhado de rachada. Estava tentando travar o canto dele colocando-o em um lugar mais escuro mais não sei se vale continuar insistindo nele e deixá-lo na cabine acustica ou colocar ou deixar ele abrir o canto de vez? Será que isso é normal quando o passaro está abrindo o canto ou ele está realmente apresentando uma falha no canto, Percebe que em algums momento quando ele começa cantar e a batida praia fica no inicio ou no meio do canto ele faz esta nota certinha, porém quando começa a cantar certo no final ele faz a batida de praia um pouco distorncida (fraca, não muito evidente, não fica bem nitida) e logo começa a rachar.O que devo fazer?

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