domingo, 30 de agosto de 2009

RESULTADO DO BRASILEIRO DE ARAÇATUBA



Num domingo de céu azul e clima ameno, aconteceu o primeiro torneio da temporada 2009 da Febraps, com a participação de 50 Curiós Clássicos e 34 Curiós Pardos, numa amostra clara que esse ano, em tese, a coisa será ainda mais disputada que ano passado.


CLASSICO PARDO SEM REPETICAO



1 - SUPINPA (6,70)
2- JOHN LENNON II (5,40)
3- HARMONIA (5,2)
4-MIRACATUZINHO (5,15)
5- PATRAO (5,00)
6- GLADIADOR (4,85)
7- CAMAPUA (4,10)
8- CAXANGA (2,10)


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CLASSICO PARDO COM REPETICAO


1- JAGUAR (8,25)
2- COBICADO (7,60)
3- BRILHANTE (6,20)
4- RIO DE LAGRIMAS (5,10)


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CURIO CLASSICO PRETO SEM REPETICAO


1- PORTINARI (7,80)
2- PLATINA (7,77)
3- MURALHA (7,75)
4- PRETO UNICO (7,70)
5- VULCAO (7,60)
6- XODO (5,40)
7- CAMBE (5,30)
8- NEMO (5,25)
9- PARAIBA DO VALE (5,29)
10- MOLEQUE TRAVESSO (5,22)

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CURIO CLASSICO PRETO COM REPETICAO


1- PROFESSOR (6,85)
2- DRAGAO (6,80)
3- GARRINCHA (6,75)
4- PEDAGIO (6,72)
5- GOGO DE OURO (6,70)
6- PARAIBA DO VALE (6,60)
7 - RECREIO (6,50)
8- GP2 (6,40)
9- CHAMORRO (4,66)
10- CHOCOLATE (3,06)


FONTE: José Alberto Fávero

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TORNEIO DO BRASILEIRO DA FEBRAPS EM ARARAQUARA


Prezados passarinheiros,


É com grande satisfação que a Associação dos Criadores de Pássaros Silvestres de Araraquara - A.C.P.S.A. - vem convidá-lo para nosso torneio FEBRAPS de canto CURIÓ, no dia 06 de setembro de 2009, com entrada a partir das 06:00h e inicio as 08:00h.

LOCAL: CLUBE NÁUTICO ARARAQUARA
RODOVIA ANTONIO MACHADO SANTANA, Km 63 CEP: 14820-000
(Rodov. SP 255 - Araraquara/ Ribeirão Preto) Américo Brasiliense - SP


Referência:


- Vindo pela rodovia Washington Luis, sentido INTERIOR /CAPITAL, seguir na 3ºsaída (271) ou 4ºsaída (268).
- Vindo sentido CAPITAL / INTERIOR, pegar a 1ºsaída (268) ou 2º saída (271), seguindo placa RIBEIRÃO PRETO.


Lembramos que as chamadas para as estacas começarão as 08:00h em ponto, não será tolerado atraso. Favor senhores proprietários dos primeiros números ficarem atentos!
Participante sem credencial FEBRAPS não participa! Quem for de outro estado, traga seu comprovante de outra FEDERAÇÃO/ ASSOCIAÇÃO.

Segue em abaixo, propostas da rede hoteleira.


FLAT SUN HOUSE (Flat que ficaram a maioria dos curiozeiros ano passado, como Isair, Rivelino, Lua, etc.) (16)3322-4099 RESERVAS por e-mail:
reserva@flatsunhouse.com.br

Tarifa especial, lembrando que estamos dando a cortesia para a segunda pessoa!

* HOTEL RESERVADO PARA OS CURIOZEIROS DO CANTO PRAIA GRANDE CLÁSSICO E PRAIA GRANDE PARDO (NOTA

TARIFA ACORDO
· Apartamento individual – R$ 95,00+3% DE ISS
· Apartamento duplo – R$ 95,00+3% DE ISS


Hotel Brasil Araraquara
contato@hotelbrasilararaquara.com.br

Apartamento com ventilador de teto para 1 pessoa R$ 32,00, 2 pessoas R$ 48,00, 3 pessoas R$ 66,00 acima de tres pessoas sai R$ 22,00 por pessoa, apto com arcondicionado para 1 pessoa R$ 38,00, 2 pessoas R$ 54,00, 3 pessoas R$ 75,00, maiores informaçoes entre em contato no fone (16) 3322-3708.


VILLA DEI COLORI
contato@villadeicolori.com.br SITE www.villadeicolori.com.br

Apartamento individual penoite com café da manhã. R$ 83,00
Apartamento duplo ou casal com ca'fe da manhã R$ 117,80
Apartamento triplo R$ 135,00
Apartamento quadruplo R$ 163,00
Estacionamento interno.
______________________________________________________________


Green Hotel Sun - Araraquara
Rua Sachs, 345 (Altura Km 271 - Rod. Washington Luiz) CEP: 14800-655 - Tel: (16) 3333.2510 / (16) 3333.6767
www.greenhotel


COMFORT ARARAQUARA
TRF 90,00 SGL
TRF 112,00 DBL
SEM TAXAS, CORTESIA DO CAFÉ E ESTACIONAMENTO.
Atlantica Hotels Internationalreservar.car@atlanticahotels.com.br
Tel: (55 16) 3311-2000 Fax: (55 16) 3311-2001Av.: Rodrigo Fernando Grillo, 387 – Jd. Dos Manacas Araraquara - SP – 14.801-534
www.atlanticahotels.com.brIr além. É o mínimo que podemos fazer por você.
DEMAIS:
http://www.ondehospedar.com.br/sp/araraquara.php


Acrescento ainda que sua presença nos motiva a fazer sempre mais.... e melhor!



José Anselmo Z. R. de Almeida Rafael Zbeidi Crescenzio João Lucon
Presidente ACPSA Diretor canto curió Diretor canto curió


NOTA DO AUTOR: O FLAT SUN HOUSE, COMO DE COSTUME, É RESERVADO EXCLUSIVAMENTE PARA OS CURIOZEIROS ADEPTOS DO CANTO PRAIA GRANDE CLÁSSICO E PRAIA GRANDE PARDO.

XXII TORNEIO BRASILEIRO DA FEBRAPS EM SJRP


Prezados, no próximo dia 13/09/2009 será realizado nas dependências do Recinto de Exposição de São José do Rio Preto (Rodovia Washington Luiz - Km 442), o XXII Torneio Brasileiro da Febraps na localidade, com horário previsto para início às 08:00 hs, uma promoção da Sociedade Ornitológica de São José do Rio Preto - SOSP.



No sábado (12/09/2009) haverá a tradicional recepção com um jantar no Ipê Park Hotel a partir das 20:00 horas, com adesão de R$ 25,00 (vinte e cinco reais) por pessoa, com bebida à parte, fazendo-se necessário confirmar presença até 08/09/2009 no SOSP.
Outras informações poderão ser obtidas na SOSP por meio dos telefones: (17) 3225.1198 ou 3223.4985


ATENÇÃO:
- SÓ ENTRARÃO PÁSSAROS DEVIDAMENTE DOCUMENTADOS E QUE OS SEUS DONOS ESTEJAM DE POSSE DAS RESPECTIVAS GUIAS DE TRANSPORTE DEVIDAS.
- O HOTEL NACIONAL ESTÁ RESERVADO SOMENTE PARA OS CURIOZEIROS DO CANTO PRAIA GRANDE CLÁSSICO E PRAIA GRANDE PARDO.

SUCESSO A TODOS OS PARTICIPANTES !





sábado, 22 de agosto de 2009

ENTREVISTA: JOÃO BAPTISTA FORLANI FILHO


Olá caros leitores, dando prosseguimento à série de entrevistas que anunciamos anteriormente e que pretendemos por em prática neste nosso espaço, apresento a vocês o nosso amigo e convidado João Baptista Forlani Filho, residente em São Paulo e o único pentacampeão brasileiro existente pela Febraps na principal categoria Praia Grande Clássico Com Repetição, detentor de quatro troféus "Ana Dias - Curió do Século", com a incrível façanha de ter em 2003 sido o campeão e vice-campeão na categoria acima com os Curiós Big Brother e Valente, ambos com a mesma pontuação ao final. Confira a inédita entrevista abaixo:



CC&T - João Baptista, quando começou o seu envolvimento com os curiós e os torneios ?



JB – Durante 10 anos fui passarinheiro de todos os pássaros, tive de Bico de Pimenta preto a Tangará da Serra, em 1994 conheci meu primeiro Curió, era mateiro, ganhei de presente de um amigo de meu irmão. Após alguns meses troquei por um de Canto Praia e foi com ele que ganhei experiência de competição.


Meu primeiro torneio foi em Iracemápolis 7º lugar no Clássico sem repetição em seguida 2º lugar em Ribeirão Preto na mesma categoria. Na época, senti de perto o desafio da competição e aprendi sozinho muitas coisas que ainda uso atualmente.


Naquele tempo, ao escutar um curió cantar, percebia quando ele errava, mas não sabia definir qual era o erro. Essa deficiência me deixava incomodado e resolvi pedir ajuda ao Sr. Olívio Nishiura para que me desse uma aula onde eu pudesse ler e escutar as notas do canto. Foram duas horas fundamentais em minha vida, a partir desse dia e, após escutar muito disco me senti mais confortável ao ouvir um curió cantar e saber exatamente como estava seu desempenho.



CC&T - Você obteve o seu primeiro Troféu Ana Dias nas temporadas de 1995 e 1996 com o Curió Jubileu de Prata e depois voltou a conquistar esse "Oscar" dos curiozeiros em 2002 e em 2003 com os Curiós Big Brother e Valente. Fale para nós um pouco desses curiós que tanta alegria lhe proporcionou, bem como faça um quadro comparativo entre as duas primeiras conquistas e as outras três que ocorreram após anos, sem deixar de lado essa importante trajetória que percorreu.



JB – JUBILEU DE PRATA - Em Jundiaí no ano 1994 fui assistir ao torneio e escutei um curió que as h 13:30 foi para a estaca, cantava meio canto, meio canto, um canto e se não bastasse ainda foi se banhar no bebedouro por várias vezes. Eu senti algo naquele pássaro e como eu já havia recebido o ensinamento para uma avaliação mesmo que superficial fui até seu proprietário e quis saber como ele cantava em sua casa. A resposta foi que ele chegava a passar de 2 a 3 cantos.


Na semana seguinte ele veio para mim, dos irmãos Mário e Ulisses da cidade de Jundiaí. Dei a ele o nome de Jubileu de Prata e na ocasião escutei no máximo 2 cantos, mas com muita qualidade. Esse pássaro foi meu grande mestre e em pouco tempo nos tornamos grandes amigos e ele se transformou em um repetidor valente que crescia muito nas competições.


Foi a sensação de 1994 e não teve competidor que pudesse tirar sua coroação. Já no ano seguinte as provas foram mais acirradas e a participação do curió Sena fez do torneio uma luta ponto a ponto.


Neste ano o defeito “Quim Toi” foi definido como grave e a penalidade era pesada. O Jubileu, quando estava frio, cometia esse defeito, mas suas outras qualidades eram incontestáveis.


Na época um dos meus concorrentes era o Valter proprietário do Sena e, nunca vou me esquecer do dia que ele resolveu competir em dois torneios, no mesmo dia.


Na ocasião ele foi a Cascavel onde foi o primeiro a se apresentar e partiu para a segunda prova. Com seu avião particular sobrevoou o local da prova de Curió em Ribeirão Preto, exatamente quando o Jubileu estava cantando. Coincidência ou não ele fez isso ,podem acreditar, muitas pessoas poderão confirmar. A passagem do avião em vôo rasante fez o Jubileu parar o canto enquanto todos falavam, “deve ser o Sena chegando”, e após o ruído do avião passar o campeão voltou a cantar, exatamente na nota seguinte do canto que fora interronpido, mostrando toda sua capacidade. Foi um aplauso total, após o resultado ser divulgado o Juiz, Renato da cidade de Franca me disse que nunca havia presenciado nada igual. Ganhar assim foi mais gostoso.


BIG BROTHER - Desde 1994 minha amizade com o Sr. Mário Beraldo criador da cidade de Araras era grande e sempre escutava dele; “será que ainda vou viver para ver um pássaro de minha criação ser campeão?”.Eu respondia; calma que seu dia chegará.


Em 2001 levei um pardo de sua criação (Big Brother) com 29 dias para minha casa. Ele havia sido criado no bico assim como todos da criação dele e com 8 meses já cantava tudo. Participei de alguns torneios com ele, mas resolvi preservá-lo, pois mostrava muito potencial para disputar o Clássico. Eu tinha projetos para o próximo ano e não saia da minha cabeça a frase do Sr. Mário Beraldo. Foi exatamente o que eu previa, com muita determinação participando de quase todas as etapas transformei eu, Big Brother e o Sr. Mário em campeões do brasileiro de 2002.


Assim, chegou o dia da celebração e do premio maior que um criador pode ter, ver seu trabalho chegar ao ápice da categoria mais valorizada e cobiçada, ser Campeão Brasileiro Clássico com Repetição. Em homenagem a ele, eu emoldurei a placa que ganhei da Febraps, em acrílico, e o presenteei. A todos que hoje o visitam, por ele é mostrada com muito orgulho.


No ano seguinte fiz uma permuta de um preto muito bom por um novo pardo, já assobiando, passando de 2 a 5 cantos mas ,muito firme de nota, um curió muito sério. Após o tempo de muda percebi que tinha dois grandes pássaros um mais guerreiro, daí seu nome Valente e outro mais melodioso e mais repetidor com um arranjo (balanço) musical excelente. Resolvi que iria participar com os dois no campeonato sabendo dos riscos de levar os dois no mesmo carro.


Mais uma vez, a determinação e a perspicácia de saber conduzir ambos sem que um prejudicasse o outro, me levaram a um feito inédito; de ter sido campeão com dois pássaros na mesma categoria. O critério de desempate que definiu o campeão não tirou o mérito do Valente em também ser Campeão. Na última etapa de 2003 em Araras eu poderia ter definido quem seria o campeão, mas deixei a natureza resolver quem seria e, com a classificação obtida nesse torneio os dois chegaram ao fim do campeonato com a mesma pontuação, fato inédito até hoje, um mesmo dono ser campeão com dois curiós na categoria Clássico com Repetição.



CC&T - Temos observado ao longo das últimas temporadas, que sempre que pode, está presente aos torneios oficiais do brasileiro nos prestigiando e observando atentamente as apresentações dos curiós e tudo mais que circunda os eventos. Desde que ganhou o primeiro Troféu Ana Dias para os dias atuais, o que pode dizer para nós, na sua opinião, que mudou, se algo mudou, nesse cenário dos torneios do campeonato brasileiro ? Nesse contexto estamos incluindo os curiós, expositores, juízes de canto, organização dos torneios etc.


JB – Muita coisa mudou.


- Primeiro : é notório que a qualidade dos pássaros vem crescendo ano a ano. Essa realidade é fruto em primeiro lugar do trabalho dos criadores que procuram os cruzamentos utilizando as características genéticas que contemplem maior percentual de aprendizagem e repetição, do aprimoramento da forma de criar, utilizando ambientes isolados e seguros proporcionando assim maior índice de acerto.


- Segundo : a dedicação dos participantes na continuidade do isolamento e no aprendizado do canto utilizando os meios mais modernos que são oferecidos em aparelhos, gravações, cabines etc.


- Terceiro : o aprendizado por parte do próprio curiozeiro, que a cada dia deixa de apenas perceber que o pássaro errou, mas se preocupa em realmente aprender o que e quando errou.

- Quarto : a organização dos torneios melhorou, mas ainda temos muito que percorrer. Precisamos fazer com que os expositores e demais participantes respeitem todos os seus concorrentes, deixando seus pássaros a uma distância adequada para que não interfira positiva ou negativamente nas apresentações. Hoje os competidores têm premiações importantes e não devem perder o respeito entre si, esse comportamento só elevará a categoria e motivará mais participantes a estarem nas competições. Não podemos esquecer de que o que há de mais belo, é o canto do curió e, independente de sermos competidores, devemos torcer sempre para que todos cantem o seu melhor. Devemos lembrar sempre que, o seu pássaro, é o melhor que você pode ter no momento. Todos devem ser respeitados.


- Quinto : quanto aos juízes, não podemos dizer o mesmo, pois eles estão se tornando raros e o volume de pássaros participantes com diferenças tão pequenas entre si tem deixado muitos possíveis candidatos a esse honroso papel não se candidatar a essa função. Se cada competidor se colocasse na posição de julgador e classificador, com certeza não iria querer encarar essa parada tão indigesta. Particularmente estou trabalhando nessa causa.


CC&T - A sua inédita e incrível conquista do campeonato em 2003 com os Curiós Big Brother e Valente, demonstra que aparentemente tens um perfil do curiozeiro detalhista, o que acreditamos que faz a diferença, ainda mais num cenário em que a competição cada vez mais é saudavelmente acirrada. Conte para nós, se possível, como foi essa verdadeira jornada de levar dois curiós ao topo, com mesma pontuação no canto Praia Grande Clássico Com Repetição numa mesma temporada, uma vez que é sabida a dificuldade de conduzir em um único veículo automotor e manejar dois clássicos nos torneios, sem que um atrapalhe o outro.


JB – Essa foi a grande dificuldade que enfrentei. Imagine fazer uma viagem a Ourinhos ou a Londrina levando duas feras em um mesmo carro. Nas provas próximas eu viajava no fim da tarde, início do anoitecer assim eu conseguia evitar que ambos cantassem no carro.


Ao chegar aos hotéis o Valente ia pra dentro do armário e naturalmente com as luzes quase sempre apagadas, ambos cantavam com facilidade com iluminação artificial. Quando as distâncias das cidades eram maiores, as viagens se tornavam mais complicadas, os dois gostavam de cantar no carro. Assim o Valente viajava sempre no porta malas com sua capa e mais duas toalhas, uma delas preta e o Big no banco ao meu lado, sempre monitorado para não cantar. No dia seguinte logo ao amanhecer um deles ia para o carro. Normalmente o que iria se apresentar primeiro eu definia em função de como eles estavam no dia anterior.


Após tomar meu banho e meu café da manhã me mandava para o torneio deixando o outro no hotel. Como eu fazia as inscrições deixando certo intervalo entre eles, apresentava um e corria para o hotel, fazia a troca e corria novamente para apresentar o outro.


Podem imaginar a loucura. Quando a ordem da chamada não era sequencial, eu ficava super ansioso e a tensão muitas vezes era passada para os pássaros.


Enfim, o resultado que obtive foi fantástico e uma grande realização e uma premiação que considero muito justa.



CC&T - O Curió Big Brother, se não estiver enganado, cantava um Selo Azul da Linha Ana Dias, e os Curiós Jubileu de Prata e Valente, o que cantavam? Eles vieram de Pardo para a sua mão? Quem foi ou foram os criadores e a genética deles ? Foi vc que como mantenedor fez todo o trabalho de encartamento ?


JB – Ambos vieram para mim enquanto pardos. O Big com 29 dias e o Valente com quase um ano. No ensinamento do Big Brother, iniciei com selo laranja padrão e depois alternava com azul. Isso deu a ele um balanço muito bom, ele tinha um merengue especial em seu canto. Filho do XEROX com Juma da criação do Sr. Mário Beraldo da cidade de Araras.


O Valente teve no Duílio (barbeiro de SP) seu primeiro professor e dei sequência ao que ele estava acostumado, selo prata pois, quando veio para mim ele estava prestes a entrar na muda para preto e não quis correr risco nenhum. Após a muda quando começou a cantar, ele escutou muito laranja e azul mas, não reproduziu o que o Big reproduzia. A colocação de nota do Valente era extremamente segura e raramente eu escutei ele errar nota. Seu criador foi o Milton do Taboão, o Valente era filho da Boneca Assassina (não preciso explicar o porquê desse nome) e de um curió de genética Soberano ele me surpreendeu muito pois, de 5 cantos de pardo ele chegou até a 16 cantos sem nenhum risco (Bauru de 2003), foi um show.


CC&T - Falando de encartamento, gostaríamos de saber de vc se há alguma preferência sua por algum Selo da Linha Ana Dias e qual o procedimento que costuma utilizar com sucesso nesse trabalho que se torna em muitas das vezes em verdadeira obra de arte, transformando em verdadeiros artistas os mantenedores, justamente porque cada caso é um caso e, em tese, não há como se estabelecer um padrão de manejo, salvo o básico.


JB – Eu já usei várias metodologias. Encartei muitos pardos com o Prata FH, Laranja e Azul sem contar naturalmente o básico Marrom.


Para usar o FH é preciso saber bem a genética da criação e se o pardo tem condições de pulmão para enfrentar esse estilo pois, muitos não sabendo desse detalhe, correm muitos riscos com o famoso QUIM TOI. Isso significa que como ele não tem condições físicas para essa dificuldade, procura uma alternativa para dar sequência ao canto encurtando o caminho, passando liso. Conversando com o Olívio sobre a grande incidência desse defeito no FH, dei uma idéia de acelerar o canto encurtando as notas para facilitar um pouco o aprendizado e ele me providenciou algumas opções com o canto mais acelerado entre 5% e 10% nascendo assim o atual FAST, hoje muito utilizado e com grande índice de acerto.


O que mais gosto e tenho obtido ótimo resultado é usar um estilo Laranja com algumas modificações e concluir com Azul também um pouco modificado.


Essa seleção forma um canto super clássico com muita melodia e um balanço incomparável.


O importante para ensinamento é o dono ter ouvido para perceber o que o curió praticamente pede; isto é, logo que as notas começam a ser definidas temos que estar atentos as suas dificuldades e procurar dar tempo a ele, mas sempre monitorando sua evolução ou involução.


Naturalmente cada um de nós tem poderes auditivos diferentes e percepções mais ou menos aguçadas, alem do controle da ansiedade e, isso faz a grande diferença. Independente desse gosto pessoal, estou novamente testando um Ouro que poderá me dar uma ótima surpresa, devo apresentar em breve.



CC&T - Depois dessas suas últimas importantes conquistas em 2003, vimos que apresentou um excelente Pardo em 2006, se não estiver enganado, que ganhou o famoso e cobiçado Torneio de Jundiaí na categoria com repetição. Esse curió depois foi transacionado com o saudoso Raul Toledo que depois dispôs do mesmo quando preto, sendo que nessa condição e nas mãos do novo dono, veio a se transformar no Curió RTC que conquistou na última temporada de 2008 o 3º Lugar no Praia Grande Clássico Com Repetição do Campeonato Brasileiro da Febraps, com igual pontuação do Curió Dragão que foi o Vice-Campeão.


Diga para nós a trajetória desse curió na sua mão, como o encartamento utilizado, a apresentação dele em Jundiaí e se depois de preto, em sua opinião, melhorou ou não na categoria de quando era pardo e estava sob os seus cuidados.


JB – Esse pássaro foi um fenômeno, muito precoce e como todo curió que se comporta assim, muito difícil de domar. Esse pardo, filho do Presente com a Xodó, foi criado pelo Rinaldo da cidade de José Bonifácio, ele já havia me dito que era uma criação muito forte e que eu deveria ter cuidado no processo de encartamento.


Peguei uma ninhada de dois irmãos e ambos pegaram canto, mas o Strike, como eu o chamei, foi o que saiu primeiro e, com 6 meses antes de sua primeira muda já tinha conquistado a prova nobre de Jundiaí.


Utilizei a sequência que já mencionei primeiro Laranja depois o Azul e, saiu o pardo mais precoce que já tive. Após o torneio fui assediado por várias pessoas, mas eu não queria dispor dele, minha intenção era competir no ano seguinte na estaca de Clássico.


Como eu tinha um grande apreço pelo Raul e já sabendo de sua condição de saúde resolvi ceder a suas tentativas. Mesmo a distância acompanhava a evolução do Strike. Depois da passagem do Raul, falando com seu funcionário, fiquei sabendo do estado de canto dele e o orientei a tentar retornar ao que ele era, pelo menos em parte conseguiu.


Quando escutei o ex Strike e atual RTC em Campinas 2008, pude constatar que já não era o mesmo de quando pardo, mas apresentou um excelente canto que lhe rendeu o 1º lugar disputando com todas as feras lá presentes.



CC&T - Diga para nós, está preparando alguma máquina para esta ou uma próxima temporada ?


JB – Como todo bom curiozeiro, eu sempre tenho coisa boa em casa mas, minha prioridade já não é mais correr campeonato e sim, vez ou outra, apresentar algum curió que penso valer a penas ser mostrado. Nem sempre o bom pássaro de casa é um bom competidor de estaca mas, sempre queremos mostrar o que temos de bom.



CC&T - O que vc poderia dizer para aquele curiozeiro que pretende ter o seu primeiro Curió Praia Grande Clássico ? Para aquele curiozeiro que pretende participar ou já participa de torneios e não tem obtido o sucesso pretendido na sua empreitada ?


JB – Aos iniciantes do Clássico, que tenham bastante humildade quando não conhecerem realmente o canto e procurarem se aconselhar sempre com algum amigo ou um orientador sério para ter certeza do que leva para sua casa e às competições.


Participar de um torneio não é tão simples e o sucesso é conquistado com um ótimo pássaro, muita determinação e muito cuidado, pois estragar é muitíssimo mais rápido do que encartar.


O dono de Curió competidor tem que conhecer bem seu instrumento de competição. Ele deve descobrir como melhor prepará-lo antes de sua apresentação; se gosta de escutar outro curió, se precisa de algum estímulo visual etc. Lembrar de que ele é apenas uma ave engaiolada e como canta para defender território e cortejar fêmea depende de seu dono para que possa se apresentar da melhor forma possível.


Essa talvez seja a maior falha dos competidores, não conhecerem os detalhes de seus pássaros. São esses detalhes que podem influir no sucesso de sua jornada.



CC&T - Por último, deixo o amigo à vontade para tecer as suas últimas considerações que gostaria de fazer.


JB – Primeiro quero agradecer a oportunidade de poder estar respondendo perguntas para seu Blog e dizer que você é um curiozeiro de detalhes e determinação, isso o faz um verdadeiro campeão.


Quero também aproveitar para informar a todos que eu e meu amigo Antonio Carlos, estamos praticamente concluindo um sistema informatizado de julgamento de canto que vai auxiliar em muito os juizes atuais na classificação dos competidores.


O que temos hoje é um critério de julgamento comparativo que deixa muitas vezes dúvidas quanto a precisão do resultado final onde o fator subjetivo muitas vezes prepondera aos técnicos.


Os torneios tendem a ter mais competidores e, seguindo as regras atuais, o tempo de canto deverá ser menor, assim , não sendo suficiente para que o Curió mostre seus dotes e imperfeições por completo.


Criamos um sistema em que são avaliados os quesitos qualitativos, VOZ, ANDAMENTO, MELODIA, ARRANJO E APRESENTAÇÃO DE CONJUNTO, e os quesitos quantitativos, onde serão apontados COLOCAÇÃO DE NOTAS E DEFEITOS ,QUANTIDADE DE CANTOS E DE CANTADAS do Curió.


O juiz nesse sistema será um real apontador se restringindo a conceituar os itens qualitativos e registrar os quantitativos, ele não se preocupará mais em dar nota, isso será função do sistema desenvolvido, que utiliza pesos para tudo e que faz a proporcionalidade dos erros cometidos pelo número de cantos e cantadas que o pássaro se expôs.


Isso significa que todos os competidores serão julgados por um único critério e as notas e classificações serão mais precisas. Assim erros como os ocorridos em Piracicaba com o curió Muralha não seriam contemplados; o sistema não deixaria isso acontecer.


Estamos trabalhando para no futuro podermos julgar 150 participantes divididos até em estacas diferentes, sem prejuízo do tempo de apresentação utilizando-se sempre o mesmo critério de julgamento e apontamento que o sistema possibilita. Gastamos muitas horas escutando gravações e analisando as formas de julgamentos atuais, chegamos a um programa de excelente dinamismo e coerência.


Ele será utilizado paralelamente aos julgamentos oficiais em minis torneios e em alguns oficiais (sempre que colaborarem) para que possamos juntamente com os juizes e mesários lapidar o sistema até que esteja pronto para os torneios oficiais de nossa federação.

domingo, 16 de agosto de 2009

ENCONTRO DOS CAMPEÕES 2009



Olá, estivemos presentes no I Encontro dos Campeões no Vale do Curió do nosso amigo e simpático curiozeiro Lua, onde estava presente um público de umas cem pessoas que puderam saborear, num agradável dia de domingo, uma boa conversa, um delicioso churrasquinho no espeto e belas apresentações dos curiós, apesar de ainda estarmos em meados de agosto.


Foi um bonito encontro que serviu para avaliar o que podemos esperar aparentemente dessa próxima temporada do brasileiro, bem como para iniciarmos um aquecimento e preparação dos curiós que irão competir as 14 etapas do Campeonato Brasileiro 2009 e, os classificados, que participaram ainda das últimas duas etapas (semi-final e final) do Torneio dos Campeões.


A temporada de 2009 será, com certeza, ainda mais acirrada na disputa pelo título que em 2008, diante da alta qualidade dos curiós participantes, sendo certo que os favoritos, como de praxe, começaram a se desenhar do meio da temporada para frente.


O Curió Muralha teve a sua apresentação filmada, vale a pena conferir no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=_vaSn8Vnn64).

A imprensa escrita esteve presente na pessoa do nosso amigo Edilson Guarnieri, Diretor Editor da Revista Passarinheiros & Cia e fabricante das Cabines Acústicas Guarnieri, bem como o Valdeci e o Luiz da Tectron Eletronic.

Na mesa de julgamento estiveram presentes o renomado Juiz de Canto Junichi Yonemura, ladeado pelo João Lucon e Rafael Mangia.


Foram apresentados cerca de 32 curiós pardos e pretos, salientando que nos Curiós Praia Grande Pardo a premiação não fez distinção entre os com e sem repetição, seguindo abaixo a classificação.


- CURIÓ PRAIA GRANDE CLÁSSICO COM REPETIÇÃO:


1) Curió MURALHA - Nota 7,5

2) Curió MARAJÁ - Nota 7,2

3) Curió DRAGÃO - Nota 7,0

4) Curió LUAL DO VALE - Nota 6,5

5) Curió CO-PILOTO - Nota 6,25


- CURIÓ PRAIA GRANDE CLÁSSICO SEM REPETIÇÃO:

1) Curió MARAJÁ DE STº ANDRÉ - Nota 7,0

2) Curió TALISMÃ - Nota 6,2

3) Curió ALMA NEGRA - Nota 6,0

4) Curió REJEITADO - Nota 5,5

5) Curió CHAMORRO - Nota 5,25



- CURIÓ PRAIA GRANDE PARDO:
1) Curió JOINVILLE - Nota 5,5

2) Curió ZÉ RAMALHO - Nota 5,25

3) Curió BARACK - Nota 5,00

4) Curió GLADIADOR - Nota 4,8

5) Curió ABEL - Nota 4,7






sexta-feira, 14 de agosto de 2009

BOLETIM Nº 02 - ABRIL DE 2003


BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS
Nº 2 ABRIL DE 2003
REDATOR: Dr. JOSÉ CARLOS PEREIRA
RUA JOAQUIM DO PRADO, 49. CRUZEIRO/SP. TELEFAX 0xx12 5443590
drjosecarlos2000@uol.com.br




SALMONELOSE

Há um grupo de bactérias chamadas Enterobacteriáceas porque vivem no intestino (entero = relativo ao intestino), principalmente no cólon, embora possam também colonizar outros habitats. No grupo estão bactérias muito patogênicas como as Salmonellas, as Shigellas, a Edwardsiella, o Citrobacter e a Yersinia. Têm a forma de bacilos (bastonetes), vivem em ambiente com oxigênio (aeróbias) ou sem ele (anaeróbias), fermentam a glicose produzindo ácidos e gases, algumas possuem flagelos que facilitam a movimentação e possuem cromossoma com duas hélices de DNA. Resistem ao ambiente ácido do estômago e ao ambiente alcalino, detergente (determinado pelos sais biliares) e rico em enzimas do intestino delgado. Algumas vivem como simples comensais no intestino e outras podem ser extremamente patogênicas. São resistentes a muitos agentes físicos, mas podem ser mortas pelo calor de 54.5 graus centígrados por uma hora ou 60 graus centígrados durante15 minutos. Permanecem viáveis alguns dias na temperatura ambiente ou nas baixas temperaturas e durante semanas no esgoto, alimentos secos, agentes farmacêuticos e material fecal. São bactérias de grande plasticidade genética que permite viverem numa grande variedade de habitats.


Há Salmonellas altamente adaptadas aos humanos, outras altamente adaptadas aos animais que geralmente não causam problemas para os humanos e outras não adaptadas a hospedeiros e que podem determinar doenças tanto em animais como em humanos. Na superfície contêm três antígenos: o somático (O), o flagelar (H) e o capsular (K) que servem para os testes sorológicos para a identificação.


As Enterobacteriáceas, como as Salmonellas que nos interessam no momento, são consideradas os mais importantes patógenos intestinais das aves. As espécies aviárias que não possuem ceco (porção inicial e ampolar do intestino grosso), ou ele é rudimentar, são mais suscetíveis às Salmonellas do que as que possuem o ceco funcionando normalmente.


Embora a transmissão mais comum seja a fecal oral, pode acontecer a transmissão por via respiratória pela inalação de bactérias contidas na poeira contaminada por penas ou fezes. O embrião pode ser contaminado por bactérias possuidoras de membranas ou sem elas (formas L) que penetram pelos poros da casca do ovo. Um número muito pequeno de bactérias, maior do que 9 ou 10, pode matar o embrião.


Quando o número e a virulência da Salmonella não são capazes de matar o embrião, o filhote nasce contaminado e capaz de disseminar a bactéria por toda a ninhada. Também é importante o criador saber que pode haver uma adaptação entre o hospedeiro e o invasor durante o choco do ovo e o filhote nascer como um portador subclínico (portador são) da bactéria, mas capaz de disseminar o parasita.


As aves livres, como os pardais e as rolinhas, também podem ser portadores sãos das Salmonellas e, assim, serem fontes de contaminação de aviários. Há outra forma de contaminação vertical do filhote quando ele é alimentado por conteúdo contaminado do papo da mãe ou do pai.


Um dado interessante, importante e preocupante: normalmente o intestino do filhote recém-nascido é estéril e, aos poucos, vai sendo colonizado por bactérias acidófilas não patogênicas. Mas, na contaminação do embrião, a colonização inicial do intestino do filhote pode ser pela Salmonella. A fêmea com Salmonellas no ovário pode contaminar a gema ainda no próprio ovário. O ovo pode ser contaminado durante qualquer fase da postura e durante o choco. Algumas vezes podem haver aves que apresentam a doença de forma crônica, com períodos de septicemia (presença da bactéria no sangue) e sinais clínicos.


A primeira descrição da Salmonella foi feita em 1894, por Theobald Smith, e o nome foi uma homenagem ao seu supervisor, Daniel Salmon. O gênero Salmonella possui três espécies: Salmonella typhi, S. choleraesuis e S. enteritidis, as primeiras duas com somente um serotipo cada uma e a terceira com mais de 1800 serotipos. A classificação baseada no estudo do DNA determina somente duas espécies: Salmonella enterica e Salmonella bongori. A espécie enterica possui seis subespécies(enterica, salamae, arizonae, diarizonae, houtenae e indica); a subespécie enterica possui um grande número de sorovares (paratyphi A, typhimurium, agona, derby, heidelberg, paratyphi B, cholerasuis, infantis, virchow, dublin, enteritidis, typhi e anatum). Hoje, os quadros epidêmicos podem ser acompanhados e controlados por técnicas muito refinadas como a análise dos plasmídeos e a digestão dos genes cromossômicos pelas endonucleases, capazes de diferenciar mínimas diferenças nas estruturas cromossômicas das bactérias.


Aqui, somente interessam as Salmonellas chamadas não tifóides, ficando de lado os quadros sistêmicos graves conhecidos por febre tifóide ou febre entérica, determinados pela Salmonella typhi, cujo único hospedeiro é o homem.


Acomete milhões de pessoas anualmente, sendo a metade de jovens abaixo de 20 anos de idade e um terço de crianças abaixo dos quatro anos. A maioria dos casos surge nos meses quentes.


Os principais reservatórios dessas Salmonellas são o frango, os perus, os patos, as ovelhas, os porcos, o gado bovino, os pássaros e os animais de estimação, inclusive o gato. O uso de pequenas doses de antibióticos em animais facilita a emergência de cepas de bactérias resistentes aos mesmos no intestino dos animais; no ato da matança essas bactérias podem contaminar a carne. Geralmente ocorre em surtos ocasionados por alimentos ou, mais raramente, água contaminados.


As carnes de aves domésticas ou os seus produtos, principalmente os ovos, são fontes importantes de infecção humana. Os ovos podem ser contaminados por Salmonellas que penetram pela casca ou diretamente por bactérias existentes nos ovários das aves e que infectam as gemas. Muito cuidado com o consumo de ovos crus ou mal cozidos diretamente ou contidos em maioneses, saladas, etc. O ovo da pata (a mulher do pato) criada nos quintais contamina-se facilmente na cloaca da ave ou pelo péssimo costume da postura no chão. Cuidado com as carnes de animais cruas ou mal passadas dos quibes, churrascos, bifes, etc. Um churrasquinho mal passado pode acabar com uma festa de casamento ou de aniversário. E encontro de passarinheiro que se preza termina, ou começa, sempre em volta de uma mesa ou de uma churrasqueira. Não seria de bom tom o pássaro voltar para casa são e o dono contaminado. Cuidado redobrado com animais de estimação, especialmente com as tartaruguinhas de aquário e as iguanas.


Os passarinheiros devem ter cuidado especial com alimentos derivados de peixes e ossos fornecidos aos pássaros. Outras fontes são o leite ou seus produtos não pasteurizados, instrumental médico e medicamentos feitos com produtos animais contaminados. No passado aconteceram vários surtos de salmonelose dentro de hospitais e determinados pela Salmonella cubana, contaminante do corante carmim usado nos laboratórios; esse corante tem como matéria prima o inseto Dactylopius coccus costa, hospedeiro da S. cubana e encontrado originariamente no México e América Central.


As frutas e verduras podem ser facilmente contaminadas pela água, devendo ser rigorosamente lavadas se forem consumidas com a casca ou cruas. Cuidado com a qualidade, o prazo de validade e a estocagem das rações dos animais. Já foi descrita a infecção da criança durante parto vaginal de mãe infectada. O estado de portador crônico das Salmonellas não typhi é raro entre pessoas sadias. Após uma infecção, o animal pode eliminar as Salmonellas por até 5 semanas.


Na parede intestinal são notados inflamação difusa com inchação, algumas vezes erosões e microabscessos. Apesar da capacidade do organismo penetrar na parede intestinal, raramente são observadas ulcerações ou destruição do epitélio. A acidez do estômago, principalmente quando chega próximo ao pH 2, mata um grande número de bactérias, mas, os recém-nascidos e crianças, possivelmente os filhotes de pássaros, que têm acidez menor e o estômago é esvaziado mais rapidamente, são mais vulneráveis à salmonelose sintomática. A passagem estomacal mais rápida para os líquidos do que para os sólidos explica porque um número pequeno de bactérias pode provocar doença nos surtos determinados por água contaminada. No intestino as Salmonellas competem com as bactérias da flora normal para o crescimento; esse equilíbrio pode ser quebrado, em favor das Salmonellas, principalmente se forem resistentes, pelo uso inadequado de antibióticos.


O uso de medicamentos que diminuem a motilidade intestinal, favorecendo o maior tempo de contato da bactéria com a parede, como os antiespasmódicos, favorece a atividade da bactéria. Após a multiplicação na luz intestinal, as Salmonellas aderem-se à parede da célula e penetram sem ocasionar lesões ou ulcerações. Embora muitas bactérias produzam citotoxina capaz de facilitar a penetração, o seu papel ainda não é muito claro. Algumas Salmonellas produzem uma enterotoxina semelhante a da cólera e que determina grande fluxo de água e eletrólitos para a luz intestinal, mecanismo principal da diarréia aquosa.


A infecção pelas Salmonellas não tifóides caracteriza-se pelo início súbito com febre, náuseas e vômitos, cólicas abdominais inicialmente na região do umbigo e no quadrante inferior do abdome, diarréia com fezes aquosas, algumas vezes com aspecto disentérico com sangue e catarro mostrando que o cólon foi atingido. A incubação é curta, em média 24 a 48 horas. Outros sinais são dor de cabeça, tonteiras, confusão mental e distensão abdominal. Algumas vezes surgem sinais de meningismo e convulsões. Embora a salmonelose não tifóide se restrinja à parede intestinal, em condições especiais as bactérias podem invadir a corrente sangüínea (bacteremia) e chegar a qualquer órgão, sendo os preferidos as meninges, os pulmões e os ossos.


Nos pássaros podem também chamar a atenção a sede intensa, o aumento do volume urinário, a falta de ar (algumas vezes pode não significar acometimento pulmonar e sim cardíaco), algumas vezes sinais articulares e a secreção ocular que caracteriza a conjuntivite. A possibilidade das Salmonellas poderem provocar infecções nos ovários e testículos é de importância prática para o criador preocupado com a fertilidade dos seus pássaros.


Enfim, é doença que pode evoluir somente com sinais gastrintestinais, como a diarréia, ou tornar-se uma poliesculhambose, como diria um amigo de turma de medicina. Em ave encorujada (o neologismo é inevitável), com diarréia aquosa e, principalmente se houver catarro e sangue, a salmonelose deve fazer parte do diagnóstico diferencial.


O diagnóstico laboratorial pode ser feito pela cultura das fezes ou de outros líquidos orgânicos, como o líquor, o líquido sinovial e a urina. Se houver possibilidade de colher material de supurações, o tingimento pelo método de Gram é de valia. As bactérias crescem bem em meios de cultura não seletivos como o agar-sangue ou o agar chocolate. Quando há possibilidade da presença de bactérias da flora, como nas fezes, podem ser usados meios seletivos como o MacConkey, XLD e bismuth sulfite (BBL). A identificação pode ser feita pelos exames bioquímicos e sorológicos usando anti-soros específicos. O uso do ADN para identificação das Salmonellas, uma fineza técnica, atualmente somente é possível em laboratórios experimentais.


Nos humanos não há, a não ser em casos especiais determinados pelo médico, indicação para o uso de antibióticos nas gastrenterites determinadas pelas Salmonellas. Os cuidados gerais, como a hidratação, são suficientes. Além desses casos especiais de gastrenterites, os antibióticos estão indicados nos casos em que há a bacteremia ou focos fora do intestino.


A dúvida de usar ou não antibióticos também é válida para as aves, mas, pela possibilidade da disseminação vertical ou horizontal da doença para um grande número de aves, o uso de antibióticos parece que deve ser mais liberal.


Existem vários antibióticos que podem ser usados como a ampicilina, a associação sulfametoxazol-trimetoprima (na realidade um quimioterápico e não um antibiótico), cefalosporinas de terceira geração e as quinolonas. Volto a afirmar, o tratamento dos animais é prerrogativa do veterinário. Os criadores devem restringir a sua atuação aos cuidados profiláticos. Afinal, mais vale prevenir do que remediar.


Aos governantes, à comunidade e às pessoas cabe procurar os meios para evitar o contágio pelas Enterobacteriáceas:


- Tratamento da água e fornecimento a toda a população em quantidade suficiente. Construção de sanitários públicos limpos, cuidados com o lixo e construção de esgotos são também atos governamentais essenciais.


- Construção de sanitários nas residências, evitando fossas e a eliminação dos dejetos no meio ambiente. O canis devem ser mantidos escrupulosamente limpos, devendo as fezes serem encaminhadas para a rede de esgotos tão logo sejam eliminadas pelos animais. As botas usadas durante a limpeza dos canis não devem ser usadas em outros compartimentos, assim como outros utensílios como vassouras, rodos, mangueiras de água, etc. Não esguichar a água diretamente no bolo fecal para não disseminar possíveis parasitos; recolhe-las com uma pazinha e somente depois lavar o chão.


- Evitar nadar em águas também freqüentadas por animais. É comum a natação em rios que são contaminados a jusante por excrementos de animais de fazendas, sítios e chácaras.


- Ficar atento ao tratamento dos animais domésticos, algumas vezes contaminantes do meio ambiente familiar. Animais domésticos não devem ficar dentro de casa, principalmente se houver crianças. Evitar que crianças brinquem nos locais destinados aos animais. Deixar o cão freqüentar a piscina é um risco que deve ser bem calculado.


- Lavar as mãos das crianças antes das refeições e após as evacuações usando sabão e uma escovinha para limpar as unhas. Lavar as mãos adequadamente é uma das ações mais importantes no controle das infecções, tanto por sua eficiência como pela facilidade de execução. Infelizmente, é muito negligenciada pelas pessoas. Se o criador conseguir lavar as patas dos filhotes, pelo menos uma vez por dia, usando água e sabão, evitaria algumas dores de cabeça.


- Isolar o animal doente e procurar detectar os parasitas em outros animais do canil.


Enfim, como as Salmonellas atuam como verdadeiras zoonoses, capazes da transmissão animal-homem, e também homem-animal para não ser injusto, os cuidados sempre devem envolver os dois elos. Nunca esquecer que o criador também tem família.

E daí, devem estar perguntando os passarinheiros, o que temos a ver com isso? Tudo.


Como zoonoses, as Salmonellas podem atingir o homem vindo dos animais e vice-versa. Portanto, além da importância do controle da salmonelose no plantel, as suas atitudes passam a ter um sentido social mais amplo.


O controle é relativamente fácil. O principal modo de transmissão é o fecal-oral: saída dos parasitas pelas fezes, contaminação do meio-ambiente e entrada pela boca. Desconhecer esse princípio básico é dar mole para o bandido. Portanto, todos os cuidados citados aí em cima envolvendo o homem e o cão têm tudo a ver com os passarinheiros. Estão todos na mesma barca e o azar de um pode ser a desgraça do outro.


Especificamente, alguns cuidados podem ser tomados pelos passarinheiros para evitar que o seu criatório (criadouro. Na verdade, ainda não achei uma boa e definitiva palavra para definir o local onde são criados pássaros) torne-se foco exportador e importador de Enterobactérias:


-Lavar rigorosamente as mãos com água e sabão, sabão mesmo, esfregando as unhas com uma escovinha antes de manusear as frutas, as hortaliças e a água que serão fornecidos aos pássaros. As mãos devem ser lavadas, sempre com água e sabão, antes e depois de manusear pássaros ou os utensílios.


-Lavar rigorosamente, com água e sabão, frutas e as hortaliças que serão dadas aos pássaros e enxágua-las muito bem. Podem ser deixadas por alguns minutos em solução de água e vinagre ou de hipoclorito de sódio, não se esquecendo de enxaguar copiosamente antes de dá-las aos pássaros. Pela simplicidade, creio que o lavar as mãos e as frutas e hortaliças já será uma grande ajuda no controle desses parasitas.


-Oferecer aos pássaros somente água, no mínimo, filtrada. A água fervida seria mais seguro, desde que seja mantida no fogo pelos menos durante 20 minutos após levantar a fervura. Os mesmo cuidados devem ser tomados com a água para os banhos dos pássaros. Lavar, se possível de maneira individualizada, os utensílios também com água filtrada. Se for possível, pelo menos uma vez por mês, ferver os utensílios resistentes à fervura, principalmente as grades e as bandejas do fundo da gaiola. Se for organizada uma rotina, mesmo nos criatórios maiores as atividades profiláticas serão relativamente fáceis.


-A manutenção higiênica do prédio onde está instalado o criatório deve ser diária, evitando o acúmulo de dejetos e restos alimentares. Ter um jogo de mangueira, pazinha de limpeza, baldes, botas, vassouras, rodos, cestos de lixo, etc. somente para dentro do criatório. Se existirem mais de um ambiente, um jogo para cada um. Verão que vale a pena o investimento. O uso de detergentes e outros produtos de limpeza bactericidas deve ser feito com orientação técnica. Aqui não cabem improvisações.


-Tratar as fêmeas com salmonelose é essencialíssimo pela possibilidade delas infectarem verticalmente os ovos e a gema tornando o problema de difícil controle no criadouro. Somente os ovos postos um mês ou mais após o tratamento da fêmea devem ser chocados.


-Tratar os machos galadores infectados, pois, por ser comum usá-los com várias fêmeas (poligamia), poderão contaminar o plantel numa proporção geométrica. Não tenho qualquer dado sobre o assunto, mas seria esperada maior possibilidade de contaminação dos machos, devido às grandes aberturas do bico durante os cantos, pela poeira contaminada.


-Fazer exame de fezes em todos os filhotes nascidos de mãe e/ou pai contaminados e tratar os casos positivos deixando o restante em observação constante. Os gaiolões com muitos filhotes funcionariam como creches ampliando a disseminação da bactéria.


-Não caia naquela de dar antibióticos com finalidade profilática. São muito poucos os casos em que o uso profilático de antibióticos tem valor comprovado. E a salmonelose não é um deles. Fazendo isso você estará criando cepas resistentes da Salmonella, um problema para a sua própria família e para os seus pássaros. Cepas resistentes de uma bactéria que se propaga facilmente num canaril são pragas de sogra (só um xiste, porque a minha era ótima, não tenho queixas).


-Muito cuidado com as fezes das aves. O papel do fundo da gaiola deve ser trocado diariamente. O costume de colocar várias camadas de papel não é bom, pois, o filtrado da parte líquida fecal pode levar os parasitas para a folha de baixo (lembrar que estamos lidando com seres microscópicos). Deve ser usada uma folha de papel e a bandeja deve ser limpa diariamente e colocada ao sol (para isso, seria bom ter, pelo menos, duas bandejas por gaiola). Individualizar as bandejas para evitar usar bandeja usada em gaiola de pássaro contaminado em a gaiola de pássaro não contaminado, criando, assim, condições para disseminação da infecção pelo criatório. Se você usa areia na bandeja, tenha muito cuidado, pois, se não houver troca constante e higiene impecável, será um meio propício para manutenção dos parasitas.


-Muito cuidado com as gaiolas usadas para manter os machos ou levá-los aos torneios. Como ficam a maior parte do tempo fora do criatório, no ambiente externo e em locais diferentes, têm maiores possibilidades de ser depósitos de parasitas. São feitas de madeira, com muitos detalhes e têm muitas saliências e reentrâncias que facilitam a vida dos parasitas e dificultam higienizá-las. E, na maioria das vezes, não possuem grade separando a bandeja dos pássaros como acontece com as gaiolas de criação. Creio que, num futuro próximo, poderão ser substituídas por gaiolas feitas somente de arame.


-As vasilhas contendo sementes, farinhadas, minerais e água devem ser colocadas de modo a evitar que sejam atingidas pelos jatos evacuatórios dos pássaros. Inspecioná-las diariamente e, se estiverem sujas com excrementos, desprezar o conteúdo e higienizá-las.


-Muito cuidado com os poleiros. Devem ser colocados de maneira que não possam ser sujos pelas fezes, pois, pelo hábito das aves limparem o bico neles após alimentarem-se, a contaminação será fácil.


-Cuidado especial com pássaros trazidos de fora do canaril, mesmo que seja somente para uma galadinha. Fazer quarentena nem sempre é praticável. Se o galador vier de canaril que mantenha boas condições higiênicas tudo fica mais fácil. Seria ótimo os donos dos bons pássaros galadores manterem os pássaros em ótimas condições de higiene física, social e até mental, pois, eles podem representar um boa fonte de renda para abater nas despesas do criatório.


-Com as aves adquiridas para compor o plantel a quarentena é obrigatória, a não ser que venham de criatório que mantenha rígidas condições de controle sanitário do plantel. Creio que a quarentena de três semanas seja suficiente para a maioria das doenças infecciosas. Não trazer o pássaro em gaiolas do criatório onde o adquiriu. Manter o pássaro entrante fora das instalações que albergam o plantel. O ideal seria uma pessoa para cuidar somente dele e que não tivesse acesso ao criatório. Se não, usar luvas ou lavar rigorosamente as mãos, com água e sabão, após o trato e cuidados com os utensílios da ave em quarentena. Todos os utensílios, produtos alimentares, vassouras, pazinhas, cestos de lixo, etc. devem ser mantidos separadamente dos usados para o plantel. Ponto de água para lavar os utensílios separado. Muito cuidado com os excrementos. A quarentena deve ser para valer ou nem vale a pena ser feita.


-Cuidado com os machos que vão a torneios ou a outros criatórios para coberturas. Seria interessante ter uma gaiola somente para torneios e outra para a manutenção do pássaro no criatório.


-Levar água filtrada e/ou fervida quando for a torneios, evitando dar ao pássaro água da torneira sem as condições higiênicas seguidas no criatório. Se esquecer, é preferível dar água de garrafa tipo natural. Nem para o banho deve ser usada água do local dos torneios.


-Cuidado com a água do banho dos pássaros. Deve ser, pelo menos, filtrada e, sempre que possível, fervida. Tirar a vasilha logo que o pássaro terminar o banho.


-Algumas vezes os parasitas podem ser trazidos para o criatório pelas patas de pássaros, como os pardais, ou das moscas. Telar as janelas, portas e as aberturas para a ventilação é medida heróica. Não deixar lixo ou restos de comida expostos é essencial porque eles atraem pássaros, moscas e predadores, inclusive ratos. Muitas plantas também são atrativos.


-Cuidado muito especial com o micro-ambiente formado pelo ninho e com os seus habitantes. Examinar cuidadosamente as matrizes, somente colocando para procriar aquelas que estejam realmente em ótimas condições de saúde. Seria seguro fazer cultura das fezes e do material colhido da cloaca de todas elas ou, nos plantéis maiores, selecionar para o exame por amostragem.


O mesmo procedimento deveria ser feito com os machos. Higienizar com muito cuidado as caixas, os ninhos e o material usado para confecciona-los. Durante a temporada de cria seria bom uma culturazinha do material dos ninhos, por amostragem ou não. Os ovos têm alguma defesa física contra a entrada de parasitas, mas, os ovos alterados, como casca muito fina ou pequenas quebraduras microscópicas da casca, os tornam mais vulneráveis.. Há técnicas para a lavagem da casca dos ovos usando desinfetantes apropriados ou solução com antibióticos como a gentamicina, mas não sei os resultados e não cabe nesse trabalho (se houver interesse, consulte o seu veterinário). Pode ser feito o exame dos ovos, entre o sétimo e o décimo dias de choco, usando uma fonte de luz apropriada para a transiluminação (ovoscopia); todos os ovos que não demonstrem atividade embrionária devem ser descartados, pois, além de provavelmente estarem vazios, serão presas mais fáceis dos parasitas. Se houver suspeita da contaminação do ovo, fazer cultura dos fluidos e tecidos de dentro deles. Embriões ou filhotes recém-nascidos que morrerem deverão ser submetidos à necropsia. São cuidados um pouco trabalhosos, mas deve ser lembrado que visam proteger as matrizes e os padreadores, as maiores riquezas do criador por serem os depositários de uma seleção genética de anos.


-E sol, amigos, pois, onde entra o sol não entra o médico, ou o veterinário, como dizia minha avó. Locais escuros, muito quentes e úmidos jogam para os bandidos.


As medidas profiláticas são econômicas e, tornadas rotinas, de fácil execução. Servem também para evitar muitas outras doenças que infernizam os criadores, como as determinadas por outras bactérias intestinais (Escherichias, Yersinia e Campylobacter) e pelos protozoários intestinais.

NOTA: DESTAQUES NOSSOS

domingo, 9 de agosto de 2009

BOLETIM Nº 01 - MARÇO DE 2003



BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS
Nº 1 MARÇO DE 2003
REDATOR: Dr. JOSÉ CARLOS PEREIRA
RUA JOAQUIM DO PRADO, 49. CRUZEIRO/SP. TELEFAX 0xx12 5443590
drjosecarlos2000@uol.com.br

OS PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS


Historicamente deu-se o nome de parasitas aos organismos do reino animal capazes de provocar infecções. São parasitos os protozoários, os helmintos (vermes) e os artrópodes. Os protozoários são organismos unicelulares (compostos por uma só célula), com uma pequena massa citoplasmática contendo um ou mais núcleos e capazes de multiplicação dentro dos hospedeiros. Podem ser esféricos, ovais, achatados dorso-ventralmente ou estrelares. Podem se multiplicar por simples divisão binária, brotamento ou esquizogonia e, também, de maneira sexuada por fusão dos núcleos. Estão entre as maiores causas de morbilidade e de mortalidade em muitas regiões do mundo.


Existem mais de 500 milhões de pessoas parasitadas pela ameba, 800 milhões pela toxoplasmose, dois bilhões e seiscentos milhões pela malária e 250 milhões pela giárdia. Invadindo o hospedeiro, o parasito pode morrer, sobreviver sem produzir qualquer doença ou provocar doenças, desde as mais leves até as mais graves que podem levar à morte. As doenças são determinadas pelas lesões diretas provocadas pelos parasitos, pela competição com o hospedeiro pelos nutrientes ou por reações do organismo contra a presença dos invasores (reações imunológicas).


Existe um grupo de protozoários que limita as suas ações à parede do intestino e, por isso, são conhecidos por protozoários intestinais. São eles a Giardia lamblia, os coccídios (criptosporídios, a Isospora belli, os ciclosporídios e os sarcocystis), o Blastocystis hominis e a Dientamoeba fragilis. Outros protozoários que podem provocar diarréia são o Balantidium coli e alguns microsporídios. A ameba (Entamoeba histolytica), embora colonize primordialmente a epitélio intestinal, pode invadir a parede provocando úlceras e chegar a outros órgãos como o fígado, os pulmões e o cérebro; portanto, não é um parasito somente da superfície da parede intestinal.


Os criptosporídios estão entre s principais causas de diarréia em crianças nos seis continentes e são a terceira causa de hospitalizações de crianças por diarréia, principalmente nos meses quentes e úmidos, perdendo somente para o rotavírus e a Escherichia coli. A giárdia tem uma prevalência no mundo variando entre 0.5 até 50%; antes achava-se que os humanos eram os únicos reservatórios mas, hoje, é certo que encontra guarida em outros animais como cães e castores.


Os protozoários intestinais possuem várias características em comum: 1- São adquiridos pela boca ao ingerir-se água ou alimentos contaminados por fezes ou pelo contato oral-fecal direto (mais comum entre as crianças). Portanto, o seu controle depende essencialmente do saneamento básico (água e esgoto tratados) e da higiene pessoal; 2- Produzem diarréia aquosa acompanhada por cólicas, durando poucos ou vários dias, sem sangue ou catarro, acompanhada ou não de vômitos e, na maioria dos casos, sem febre; 3- A maioria dos casos é assintomática; 4- Acometem principalmente as crianças; 5- São resistentes aos métodos normais de cloração da água e sobrevivem por meses em água fria e limpa. Não resistem às altas temperaturas e ao ressecamento; 6- Parasitam outros mamíferos como gatos, cães, ruminantes e castores e podem ser transmitidos deles para o homem; 7- As infecções podem ser produzidas pela ingestão de poucos cistos (10 a 20); 8- Possuem uma forma de resistência, os cistos, e uma forma infectante, os trofozoítos e 9- Os cistos são resistentes ao suco gástrico e somente dão origem às formas infectantes no intestino delgado.


Há casos especiais que fogem às regras gerais. As amebas, quando invadem a parede intestinal provocando ulcerações, produzem diarréia com fezes com sangue e catarro, a disenteria amebiana. As giárdias podem manifestar-se por fezes espumosas e levar aos quadros mais persistentes de má absorção pela lesão das bordas em escova do epitélio intestinal.


1- Amebíase. Ocasionada pela Entamoeba histolytica, parasito do lume gastrintestinal mais comum nos trópicos. Em 1875, Losch encontrou trofozoítos de E. histolytica nas fezes e úlceras intestinais num lavrador russo. A forma cística do parasito foi reconhecida em 1903 por Schaudin. Em 1925, Boeck conseguiu a cultura em meios artificiais. A prevalência da amebíase no mundo varia de 5 até 82% da população, provocando de 40 até 110 000 mortes/ano/mundo e ocupando o terceiro lugar entre as causas de mortes determinadas por parasitos.


A infeção tem início com a ingestão dos cistos do parasito que medem 10 a 18 micrômetros de diâmetro e possuem 4 núcleos. Muito resistentes às condições ambientais e aos meio comuns de tratamento da água, são mortos por temperaturas acima de 55 graus centígrados. Resistentes ao suco gástrico, os cistos passam pelo estômago e desencistam-se no intestino delgado dando origem a 8 trofozoítos. Esses trofozoítos, medindo em média 20 micrômetros, são muito móveis e colonizam a luz do intestino grosso e, sob condições especiais, podem invadir a mucosa (em até 17% dos casos). Na realidade, as formas menores geralmente vivem como comensais na luz intestinal e a patogenicidade é determinada pelas formas maiores que medem até 60 micrômetros. O principal reservatório é o homem. Os trofozoítos amebianos aderem a mucosa mediados por receptores galactose-lecitina específicos e produzem proteínas capazes de formar canais nas células das membranas, o que facilita a penetração. A destruição tissular (os parasitos têm grande capacidade citolítica) dá origem a úlceras caracteristicamente em forma de botão de colarinho e com pouca reação inflamatória. Algumas vezes, invadem o organismo e, pelo mesmo mecanismo, lesam órgãos como o fígado e, mais raramente, pulmões e cérebro, formando abscessos.



Um dos maiores desafios da medicina é explicar como lesões tão extensas ocasionam somente sinais inflamatórios locais muito leves, além da falta de reação humoral sistêmica (anticorpos) e das reações de defesa celulares. A maioria dos casos de amebíase são assintomáticos, embora os cistos possam ser encontrados nas fezes. A invasão tecidual, ocasionando sintomas, acontece em 2 a 8% dos casos na dependência da linhagem do parasito, do estado nutricional do hospedeiro e da constituição da flora intestinal.


Alguns estudos mostram que bactérias podem transferir para as amebas algum fator de patogenicidade. Há cólicas, premência para evacuar, fezes com muco claro, algumas vezes pus, podendo estar coradas por sangue e com poucos leucócitos quando examinadas ao microscópio. Os sinais gerais caracteristicamente estão ausentes, podendo haver febre em um terço dos casos. O quadro clínico dura de poucos dias a algumas semanas e, nos casos não tratados, as recorrências são comuns. As colites amebianas são mais comuns nos animais mais jovens, às vezes com grande gravidade com desidratação, febre e calafrios. Mais raramente há a perfuração intestinal com conseqüente peritonite, extensão extraintestinal e ameboma (granuloma devido a reação fibroblástica).


Nos abscessos hepáticos há dor e distensão abdominal com aumento doloroso do fígado. Outras amebas, como a Entamoeba coli, a E. hartmanni, a E. gingivalis, a E. moshkovski e a E. polecki são assintomáticas ou produzem quadro clínicos mais leves. Tratamento com etofamida, teclosan e os derivados imidazólicos (metronidazol, tinidazol, ornidazol e secnidazol).


2- Coccidioses. Infectam as células do epitélio do trato intestinal em mamíferos provocando enterites e diarréias:


2.1- Criptosporídios (elemento principal, o Cryptosporidium parvum). Das principais causas de diarréia em animais pequenos. Foi descrito pela primeira vez por Tyzzer, em 1907, estudando a mucosa gástrica de camundongos assintomáticos. Em 1955 foi relatada uma doença diarreica provocada por criptosporídios em perus e, subseqüentemente, em mamíferos, inclusive o homem, aves, pássaros e répteis. Em crianças é encontrado nos seis continentes e está entre as 3 ou 4 causas mais freqüentes de hospitalizações por diarréia, sendo somente suplantada pelo Rotavírus e pela bactéria Escherichia coli.


Após ser ingerido, o oocisto desencistam-se no trato intestinal dando origem a 4 esporozoítos. Os esporozoítos implantam-se nas células epiteliais (que revestem o intestino) e começam o ciclo de auto-infecções na superfície luminal do epitélio. O estágio sexual, comum nos protozoários, resulta em oocistos (com somente 4 micrômetros de diâmetro) que são excretados nas fezes já com capacidade infectante para outros hospedeiros. Podem também reinfectar o mesmo hospedeiro sem a necessidade de ser ingeridos.


A quantidade de oocistos capaz de efeitos infecciosos é muito pequena, em torno de 10 elementos, o que facilita a transmissão. Embora sejam encontrados principalmente no intestino delgado, podem parasitar o cólon e a vesícula biliar nos animais imunocomprometidos. Em crianças, responde por 5 a 15% das diarréias nos países em desenvolvimento e 3 a 3.5% nos desenvolvidos. Mais comum nos animais de menor idade, incidindo mais durante os meses quentes e úmidos. Constituem uma das grandes causas de diarréias persistentes, causando grande morbilidade e mesmo mortalidade por desnutrição. Um dado epidemiológico importante foi encontrado nos estudos de Michigan, EEUU: 71% das famílias com uma criança doente tinham outros membros afetados. Extrapolando para os canis, fatalmente se um filhote estiver com a doença outros membros da ninhada estarão contaminados. A incubação é de poucos dias até duas semanas. O quadro clínico é de diarréia aquosa, freqüência de poucas até 50 evacuações por dia com dor abdominal em cãibra, falta de apetite, perda de peso e mal-estar. Os vômitos surgem em 80% dos casos com a freqüência variando de 1 até 15 por dia. Os vômitos persistentes podem ser os únicos sinais da doença. Febre em um terço dos casos, geralmente de média intensidade e durando menos de 3 dias. Geralmente auto-limitada com recuperação total, entre dois dias a um mês, a não ser nos imunocomprometidos, nos quais, pode ser crônica e persistente. Às vezes os parasitos atingem o epitélio das vias respiratórias provocando tosse. Nos imunodeficientes pode haver colecistite e pancreatite. Infecta muitos animais, como o homem e os cães, com especial predileção pelos bovinos. Alguns animais tornam-se assintomáticos em duas semanas mas continuam eliminando oocistos nas fezes durante longos períodos. Nos exames laboratoriais fixam os corantes ácidos, o que serve para diferenciá-los das leveduras.


Algumas vezes, o número de oocistos nas fezes é tão pequeno que exige o uso de técnicas de concentração como o Sheather sugar flotation. Não há presença de leucócitos nas fezes. O tratamento é basicamente de suporte, procurando manter o animal hidratado e nutrido. Nos casos mais sérios, em animais imunocomprometidos, podem ser usados medicamentos como paromomicina e azitromicina;


2.2-Isosporíase (Isospora belli, I. canis e I. ohioensis). Provoca infecção intestinal em muitos animais e no homem. Mais encontrada nas regiões tropicais e subtropicais, como América do Sul, África e sudeste da Ásia. Após a ingestão, os oocistos invadem as células do epitélio intestinal.


Os oocistos eliminados nas fezes levam algum tempo para tornarem-se infectantes, dificultando a auto-infecção como ocorre com os criptosporídios. Os oocistos eliminados nas fezes são maiores (25 micrômetros) do que os dos criptosporídios; são eliminados de maneira intermitente, exigindo múltiplos exames fecais ou procura dos mesmos no conteúdo duodenal ou no material de biópsia. O quadro clínico surge subitamente com febre, dor abdominal e diarréia aquosa sem sangue que pode durar semanas ou meses. Provocam eosinofilia (aumento das células chamadas eosinófilos no sangue) que não é encontrada habitualmente em outros protozoários. O tratamento é feito com a associação trimetoprima e sulfametoxazol;


2.3- Ciclosporídios (Cyclospora cayetanensis). Provocam quadros clínicos semelhantes aos dos criptosporídios. Não é invasivo e não há hamácias ou leucócitos nas fezes. Os oocistos são esféricos e enrugados, medem 8 a 10 micrômetros de diâmetro e lembram criptosporídios maiores. É um patógeno novo, com quadro clínico antes imputado a outros elementos como as cianobactérias e ainda necessitando de estudos. No laboratório, coram-se bem pelo Kinyoun e pelo Ziehl-Neelsen ou, melhor ainda, com método modificado da carbo-fucsina. Como os ciclosporídios, algumas vezes exigem o Sheathter sugar flotation para a identificação. Responde bem ao tratamento com trimetoprima e sulfametoxazol;


2.4- Sarcocistis. Protozoários encontrados principalmente em grandes mamíferos e raramente em humanos. Diferentemente dos outros protozoários intestinais, requer dois hospedeiros para a replicação. A reprodução sexual acontece na mucosa intestinal do hospedeiro definitivo e resulta na liberação de esporocistos nas fezes. O hospedeiro intermediário ingere fezes contaminadas com esporocistos que invadem e infectam as células do endotélio e, subseqüentemente, multiplicam-se assexualmente formando sarcocistos, ou cistos, nas fibras musculares, principalmente as estriadas, e no coração. O homem pode ser hospedeiro intermediário ou definitivo. Causam inflamações e edemas nos músculos. A infecção intestinal nem sempre está associada com enterites ou diarréias. O homem, e bem provavelmente o cão, adquirem o parasito pela ingestão de cistos dos estágios musculares nas carnes de porco ou de vaca mal cozidas. Não há tratamento específico;


2.5-Atoxoplasma. Desenvolve-se de maneira assexuadamente nas células mononucleares do sangue, o que, facilita a sua chegada a órgãos como o fígado, os pulmões e o baço. É extremamente patogênico e resistente aos sulfamídicos. Um dado clínico que chama a atenção é o fígado enegrecido que pode ser visto através da pele como pontos escuros (doença da mancha preta). A morte é a evolução mais comum. É transmitido entre as aves pelos oocistos eliminados nas fezes e não pelo ácaro vermelho Dermanyssus galinae como se pensava antigamente;


2.6-Eimeria. Segue o mesmo padrão da Isospora e completa o ciclo de vida no trato intestinal. A Eimeria grallinda tem predileção pelo fígado das aves, o qual, encontra-se aumentado de volume e apresentando pequenos focos brancos;


2.7- Dorsiella. Encontrada em muitos passarinhos, mas a sua patogenicidade parece ser mínima e,


2.8- Wenyonella. Ainda pouco estudada.


3- Giardíase. São protozoários intestinais capazes de apresentar quadros variados, desde os assintomáticos até os diarreicos agudos ou crônicos. Não produzem enterotoxinas. Em 1681, o pioneiro do microscópio, Leeuwenhoek, observou, nas suas próprias fezes, pela primeira vez, o parasito. Já em 1859, em Praga, o médico Lambl associou o parasito a diarréia em crianças (daí a giardíase ser também conhecida por lamblíase).


A sua prevalência no mundo varia de 0.5 a 50%, acometendo também cães, gatos, ruminantes, castores e aves. Antes, achava-se que o homem fosse o único reservatório mas, hoje, também os cães, os gatos, os ratos almiscarados e os castores (como grandes construtores de barragem, devem contaminar águas com facilidade) são considerados. É o agente mais comum encontrado pelo Centers for Disease Control (CDC) em surtos de doenças ocasionados por água contaminada. Atinge mais filhotes, com quadros mais graves nos mal nutridos ou imunodeprimidos.


A infecção pode acontecer com a ingestão de poucos cistos (10) medindo 8 a 10 micrômetros, paredes espessas, ovais e com 4 núcleos. Os cistos eliminados nas fezes podem ficar viáveis na água durante dois meses, não sendo afetados pela cloração rotineira ao contrário das bactérias. Alguns filhotes podem eliminar cistos por período de até seis meses. Não toleram o calor e a dessecação. O leite humano, e provavelmente o de outros animais, possui ácidos graxos livres citotóxicos e imunoglobulina A secretória capazes de proteção contra os cistos da giárdia. Na parte alta do intestino delgado, cada cisto origina 4 trofozoítos que colonizam o lume duodenal e jejuno proximal fixados aos bordos em escovas das células epiteliais e multiplicam-se por fusão binária.


Os trofozoítos têm corpo com a forma de gota de lágrima dividido longitudinalmente por duas hastes medianas, dois núcleos ovais localizados anteriormente, um grande disco de sucção na superfície ventral, um corpo médio curvado posteriormente e quatro pares de flagelos. Admite-se que proteínas contráteis podem reduzir o tamanho do disco de sucção, levando-o a formar um arco semelhante a uma ventosa como a encontrada nos desentupidores de pia.


Medem os trofozoítos 9 a 21 micrômetros de comprimento, 6 a 12 de largura e 2 a 4 de espessura. Existem diversas estirpes (raças) com variações de infectividade, estruturas antigênicas e padrões isoenzimáticos. Em condições especiais, os trofozoítos dão origem a cistos.


Como acontece com os outros protozoários intestinais, a maioria dos casos é assintomática. Nos outros casos, após um período de incubação de 1 a 3 semanas, há início, súbito ou gradual, de diarréia liquida sem sangue ou muco, falta de apetite com perda de peso, desidratação, flatulência, eructação e dores em cãibras. São características as fezes espumosas.


Raramente os trofozoítos invadem a lâmina própria da mucosa e levam aos quadros de febre e diarréia inflamatória com fezes mucosas e contendo leucócitos. São geralmente autolimitadas. Nos casos mais graves, há a destruição dos bordos em escova (responsáveis pela absorção dos nutrientes) das células do epitélio intestinal com a conseqüente má absorção dos açúcares (como a xilose e os dissacarídeos), das gorduras e das vitaminas lipossolúveis (A,D,E e K).


A intolerância à lactose, manifestada geralmente por diarréia e cólicas, pode durar semanas ou mesmo meses. Algumas vezes, a giardíase pode provocar urticária crônica. Autores afirmam que os animais portadores de giárdias geralmente apresentam quadro mais graves de viroses intestinais como a coronavirose e a parvovirose. A eliminação de cistos e trofozoítos nas fezes é intermitente, exigindo o exame de várias amostras. Algumas vezes há a necessidade da biópsia duodenal para o diagnóstico. Os testes para a detecção de antígenos são muito sensíveis e específicos. O tratamento é feito com furazolidona ou imidazólicos como o metronidazol, o secnidazol e o tinidazol.


4- Blastocystis hominis. Aparece em 3 a 18% dos exames de fezes realizados. Embora haja controvérsias se provoca diarréia, são descritos casos de diarréia durando até meses, vômitos e perda de peso. Antes era considerado um fungo e não protozoário. O tratamento pode ser feito com metronidazol ou iodoquinol.


5- Dientamoeba fragilis. Pela falta de conhecimento e a dificuldade de identificação é difícil calcular a sua prevalência. Único protozoário intestinal que tem estágio trofozoítico mas não o cístico. Aparece em 4.2% dos exames de fezes feitos. Pode também ser transmitido através de ovos ou larvas de oxiúros sujos com restos fecais contaminados. Quadros de dor abdominal crônica, diarréia intermitente e falta de apetite. As fezes diarreicas (detesto diarréicas) podem conter sangue e muco. Na metade dos casos há aumento dos eosinófilos no sangue. Para o exame devem se colhidas várias amostras das fezes. Às vezes, para o diagnóstico, há a necessidade da imunofluorescência indireta. O tratamento é feito com diiodohydroxyquinina e as tetraciclinas.


6- Microsporídios. São protozoários pequenos que, como característica interessante, formam esporos com 0.5 a 2 micrômetros de diâmetro com vida intracelular obrigatória. São membros do Filo (phylum) Microspora, o qual, possui dezenas de gêneros e centenas de espécies distribuídos modernamente tendo como base o estudo do RNA ribossômico. O ciclo de vida completo tem como resultado os esporos que são os verdadeiros agentes infecciosos.


Hoje, são conhecidos sete gêneros capazes de produzirem doenças no homem: 1- Encephalitozoon, de vida intestinal, com quadro de diarréias crônicas principalmente nos portadores de AIDS. Podem provocar também colecistites. O E. intestinalis provoca quadro de diarréia, febre, sinusite, colangite e bronquiolite e o E. hellem manifesta-se por ceratoconjuntivite, sinusite, infecções respiratórias e disseminadas.; 2- Pleistophora, com quadros de miosite; 3- Nosema, com quadros de ceratites pós traumas em imunocomprometidos; 4- Vittaforma, ceratites após traumas em imunocomprometidos; 5- Septata; 6- Enterocytozoon. O E. bieneuse provoca diarréia crônica e 7- Microsporidium, também provocando ceratites pós traumas em imunocomprometidos.


7- Balantidíase. Doença determinada pelo Balantidium coli, protozoário ciliado grande que provoca doença intestinal semelhante a da amebíase. Pode ser transmitida pessoa a pessoa, através da água e pela ingestão de fezes de porcos (principalmente nos abatedouros, fezes usadas como fertilizantes e pela contaminação da água). Nos países muçulmanos, os roedores são portadores importantes. Infecta principalmente os porcos e humanos que habitam locais de criação dos mesmos. Os cistos liberam trofozoítos que habitam e duplicam-se no intestino grosso. A maioria dos casos é assintomática. Nos sintomáticos há a invasão da mucosa com necrose focal e ulceração sem disseminação pela via hematogênica. As fezes diarreicas podem conter sangue e/ou muco. O tratamento é feito com tetraciclinas.


8- Trichomonas. Protozoários flagelados que parasitam o intestino delgado e o grosso. Podem provocar diarréia em casos especiais. Alguns veterinários amigos informam que têm encontrado, até com alguma freqüência, pentatrichomonas em fezes diarreicas de cães. As fezes podem conter catarro e sangue. Atingem principalmente filhotes. O tratamento é feito com os imidazólicos.


NOTA: O tratamento dos protozoários intestinais deve sempre ser feito sob a orientação do veterinário.


O diagnóstico pode ser feito pelo quadro clínico e pelos exames laboratoriais. Como a eliminação dos parasitos nas fezes é intermitente, devem ser colhidas, como já foi dito, pelo menos, três amostras de fezes, em dias diferentes, para os exames. No bolo fecal, as amostras para os exames devem ser colhidas em 3 a 4 pontos diferentes. No casos dos pássaros, seria importante colher amostras de fezes várias vezes durante o dia.


Aos governantes, à comunidade e às pessoas individualmente cabe procurar os meios para evitar o contágio pelos protozoários intestinais:


- Tratamento da água e fornecimento a toda a população em quantidade suficiente. Construção de sanitários públicos limpos, cuidados com o lixo e construção de esgotos são também atos governamentais essenciais.


- Construção de sanitários nas residências, evitando fossas e a eliminação dos dejetos no meio ambiente. O canis devem ser mantidos escrupulosamente limpos, devendo as fezes serem encaminhadas para a rede de esgotos tão logo sejam eliminadas pelos animais. As botas usadas durante a limpeza dos canis não devem ser usadas em outros compartimentos, assim como outros utensílios como vassouras, rodos, mangueiras de água, etc. Não esguichar a água diretamente no bolo fecal para não disseminar possíveis parasitos; recolhe-las com uma pazinha e somente depois lavar o chão.


- Evitar nadar em águas também freqüentadas por animais. É comum a natação em rios que são contaminados a jusante por excrementos de animais de fazendas, sítios e chácaras.


- Ficar atento ao tratamento dos animais domésticos, algumas vezes contaminantes do meio ambiente familiar. Animais domésticos não devem ficar dentro de casa, principalmente se houver crianças, a não ser que sejam constantemente checados contra os vermes e protozoários. Evitar que crianças brinquem nos locais destinados aos animais. Deixar o cão freqüentar a piscina é um risco que deve ser bem calculado.


- Fazer controle constante das crianças contra vermes e protozoários. Igual cuidado deve ser tomado com os filhotes. Como os protozoários intestinais são vários, e os tratamentos nem sempre iguais, a técnica de usar de tempo em tempo um medicamento em todos os animais do canil nem sempre é eficiente. No nosso canil somente usamos o método contra a giárdia e a ameba.


- Lavar as mãos das crianças antes das refeições e após as evacuações usando sabão e uma escovinha para limpar as unhas. Lavar as mãos adequadamente é uma das ações mais importantes no controle das infecções, tanto por sua eficiência como pela facilidade de execução. Infelizmente, é muito negligenciada pelas pessoas. Se o criador conseguir lavar as patas dos filhotes, pelo menos uma vez por dia, usando água e sabão, evitaria algumas dores de cabeça.


- Isolar o animal doente e procurar detectar os parasitos em outros animais do canil.
Enfim, como os protozoários intestinais atuam como verdadeiras zoonoses, capazes da transmissão animal-homem, os cuidados sempre devem envolver os dois elos. Nunca esquecer que o criador também tem família.

E daí, devem estar perguntando os passarinheiros, o que temos a ver com isso? Tudo.


Como causadores de zoonoses, alguns protozoários intestinais podem atingir o homem vindo dos animais e vice-versa. Portanto, além da importância do controle dos protozoários no plantel, as suas atitudes passam a ter um sentido social mais amplo.


O controle é relativamente fácil. O mecanismo de transmissão é sempre o mesmo: saída dos parasitas pelas fezes, contaminação do meio-ambiente e entrada pela boca, característica da contaminação fecal-oral. Desconhecer esse princípio básico é dar mole para o bandido. Portanto, todos os cuidados citados aí em cima envolvendo o homem e o cão têm tudo a ver com os passarinheiros. Estão todos na mesma barca e o azar de um pode ser a desgraça do outro.


Especificamente, alguns cuidados podem ser tomados pelos passarinheiros para evitar que o seu criatório (criadouro. Na verdade, ainda não achei uma boa e definitiva palavra para definir o local onde são criados pássaros) torne-se foco exportador e importador de protozoários:


-Lavar rigorosamente as mãos com água e sabão, sabão mesmo, esfregando as unhas com uma escovinha antes de manusear as frutas, as hortaliças e a água que serão fornecidos aos pássaros. As mãos devem ser lavadas, sempre com água e sabão, antes e depois de manusear pássaros ou os utensílios.


-Lavar rigorosamente, com água e sabão, frutas e as hortaliças que serão dadas aos pássaros e enxágua-las muito bem. Podem ser deixadas por alguns minutos em solução água e vinagre ou de hipoclorito de sódio, não se esquecendo de enxaguar copiosamente antes de dá-las aos pássaros. Pela simplicidade, creio que o lavar as mãos e as frutas e hortaliças já será uma grande ajuda no controle desses parasitas.


-Oferecer aos pássaros somente água, no mínimo, filtrada. A água fervida seria mais seguro, desde que seja mantida no fogo pelos menos durante 20 minutos após levantar a fervura. Lembrar que os coccídios suportam bem as vicissitudes do meio ambiente, as temperaturas de até 57ºC e os meios comuns de cloração da água. Os mesmo cuidados devem ser tomados com a água para os banhos dos pássaros. Lavar, se possível de maneira individualizada, os utensílios também com água filtrada. Se for possível, pelo menos uma vez por mês, ferver os utensílios resistentes à fervura, principalmente as grades e as bandejas do fundo da gaiola para quebrar o ciclo evolutivo dos parasitas. Se for organizada uma rotina, mesmo nos criatórios maiores as atividades profiláticas serão relativamente fáceis.


-A manutenção higiênica do prédio onde está instalado o criatório deve ser diária, evitando o acúmulo de dejetos e restos alimentares. Ter um jogo de mangueira, pazinha de limpeza, baldes, botas, vassouras, rodos, cestos de lixo, etc. somente para dentro do criatório. Se existirem mais de um ambiente, um jogo para cada um. Verão que vale a pena o investimento. O uso de detergentes e outros produtos de limpeza deve ser feito com orientação técnica. Aqui, não cabem improvisações. Seria interessante, pelo menos umas duas vezes por ano, no final da muda de pena e no final do período de criação, passar uma vassoura de fogo em todas as instalações. Creio que até as gaiolas e as bandejas poderão ser desinfetadas com a vassoura de fogo, tendo-se o cuidado no tempo de exposição para não danificá-las. A grande maioria dos parasitas é resistente a muitos produtos de limpeza, mas nenhum resiste ao fogo. Os únicos cuidados são tirar as aves do criatório e não por fogo nas instalações...

-Muito cuidado com as fezes das aves. O papel do fundo da gaiola deve ser trocado diariamente. O costume de colocar várias camadas de papel não é bom, pois, o filtrado da parte líquida fecal pode levar os parasitas para a folha de baixo (lembrar que estamos lidando com seres microscópicos). Deve ser usada uma folha de papel e a bandeja deve ser limpa diariamente e colocada ao sol (para isso, seria bom ter, pelo menos, duas bandejas por gaiola). Individuar as bandejas para evitar usar bandeja usada em gaiola de pássaro contaminado para a gaiola de pássaro não contaminado criando, assim, condições para disseminação da infecção pelo criatório. Se você usa areia na bandeja, tenha muito cuidado, pois, se não houver troca constante e higiene impecável, será um meio propício para manutenção dos parasitas.


-Muito cuidado com as gaiolas usadas para manter os machos e levá-los aos torneios. Como ficam a maior parte do tempo fora do criatório, no ambiente externo e em locais diferentes, têm maiores possibilidades de ser depósitos de parasitas. São feitas de madeira, com muitos detalhes e têm muitas saliências e reentrâncias que facilitam a vida dos parasitas e dificultam higienizá-las. E, na maioria das vezes, não possuem grade separando a bandeja dos pássaros como acontece com as gaiolas de criação. Creio que, num futuro próximo, poderão ser substituídas por gaiolas feitas somente de arame.


-As vasilhas contendo sementes, farinhadas, minerais e água devem ser colocadas de modo a evitar que sejam atingidas pelos jatos evacuatórios dos pássaros. Inspecioná-las diariamente e, se estiverem sujas com excrementos, desprezar o conteúdo e higienizá-las.


-Muito cuidado com os poleiros (não existe a grafia puleiro). Devem ser colocados de maneira que não possam ser sujos pelas fezes, pois, pelo hábito das aves limparem o bico neles após alimentarem-se, a contaminação será fácil.


-Cuidado especial com pássaros trazidos de fora do canaril, mesmo que seja somente para uma galadinha. Fazer quarentena nem sempre é praticável. Se o galador vier de canaril que mantenha boas condições higiênicas tudo fica mais fácil. Seria ótimo os donos dos bons pássaros galadores manterem os pássaros em ótimas condições de higiene física, social e até mental, pois, eles podem representar um boa fonte de renda para abater nas despesas do criatório.


-Com as aves adquiridas para compor o plantel a quarentena é obrigatória, a não ser que venha de criatório que mantenha rígidas condições de controle sanitário do plantel. Creio que a quarentena de três semanas é suficiente para os protozoários intestinais e muitas outras doenças. Não trazer o pássaro em gaiolas do criatório onde a adquiriu. Manter o pássaro entrante fora das instalações que albergam o plantel. O ideal seria uma pessoa para cuidar somente dele e que não tivesse acesso ao criatório. Se não, usar luvas ou lavar rigorosamente as mãos, com água e sabão, após o trato e cuidados com os utensílios da ave em quarentena. Todos os utensílios, produtos alimentares, vassouras, pazinhas, cestos de lixo, etc. devem ser mantidos separadamente dos usados com o plantel. Ponto de água para lavar os utensílios separado. Muito cuidado com os excrementos. A quarentena deve ser para valer ou nem vale a pena ser feita.


-Cuidado com os machos que vão a torneios ou a outros criatórios para coberturas. Podem trazer os parasitas para o criatório. Seria interessante ter uma gaiola somente para torneios e outra para a manutenção do pássaro no criatório.


-Levar água filtrada e/ou fervida quando for a torneios, evitando dar ao pássaro água de torneira sem as condições higiênicas seguidas no criatório. Se esquecer, é preferível dar água de garrafa tipo natural. Nem para o banho deve ser usada água do local dos torneios.


-Cuidado com a água do banho dos pássaros. Deve ser, pelo menos, filtrada e, sempre que possível, fervida. Tirar a vasilha logo que o pássaro terminar o banho.


-Algumas vezes os parasitas podem ser trazidos para o criatório pelas patas de pássaros, como os pardais, ou das moscas. Telar as janelas, portas e as aberturas para a ventilação é medida heróica. Não deixar lixo ou restos de comida expostos é essencial porque eles atraem pássaros, moscas e predadores, inclusive ratos. Muitas plantas também são atrativos.


-E sol, amigos, pois, onde entra o sol não entra o médico, ou o veterinário, como dizia minha avó. Locais escuros, muito quentes e úmidos jogam para os bandidos.

As medidas profiláticas são econômicas e, tornadas rotinas, de fácil execução. Servem também para evitar muitas outras doenças que infernizam os criadores, como as determinadas pelas bactérias intestinais (Salmonellas, Shigellas, Escherichias, Yersinia e Campylobacter).


Prezado amigos passarinheiros.


Os nossos boletins foram escritos originariamente para cachorreiros, especialmente para os criadores dos extraordinários cães pastores alemães.
Alguns passarinheiros, que os recebiam por também se dedicarem aos cães, e outros que viram alguns números acharam que poderiam ser adaptados para os criadores de pássaros. Resolvi topar a parada.
Se não ficar muito bom podem cair de pau, não esquecendo do Roberto Barros, o incansável estimulador dos jovens e abusados passarinheiros. Eheheheheh.
Mas, acreditem, foi tudo feito com a maior boa vontade.
Não falo em doses de medicamentos ou esquemas de tratamentos porque não sou veterinário. Procuro enfatizar a importância dos cuidados para se evitar as doenças. Esses cuidados dependem essencialmente do criador.
José Carlos.


NOTA PESSOAL: Caros leitores, a partir de agora, devidamente autorizado pelo autor, iremos postar semanalmente todos os boletins já existentes para amplo conhecimento até chegarmos ao de número 29, quando então iremos postar sempre que novo boletim for expedido. Pedimos a cmpreensão de todos e boa leitura, sendo que os destaques acima foram feitos por nós, uma vez que dizem respeito especificamente aos nossos pássaros. Boa leitura ! Antonio Pêcego